
Em quase toda a Europa havia guerra, superpopulação (em relação aos recursos disponíveis), estagnação e declínio econômicos, imundície, aglomeração, doenças epidêmicas (além da peste) e fome, bem como instabilidade climática e ecológica. (p.17)
… a modernidade é uma coisa muito frágil. (p. 18)
O crescimento explosivo – e a soberba do homem – sempre paga o seu preço. (p. 21)
A maioria dos historiadores modernos acredita que o que chamamos de a Peste Negra surgiu em algum lugar da Ásia Central e depois se espalhou para o oeste, em direção ao Oriente Médio e à Europa, e para o leste, em direção à China, pelas rotas do comércio internacional. Um ponto de origem frequentemente mencionado é o planalto da Mongólia. (p. 25)
À medida que crescia o número de mortos, as ruas teriam ficado cheias de animais selvagens, alimentando-se de restos humanos, soldados embriagados saqueando e estuprando, velhas arrastando cadáveres pelas ruínas e edifícios em chamas cuspindo labaredas e fumaça na Crimeia. Haveria um número imenso de roedores em passo cambaleante e uma estranha espuma de sangue nos focinhos, pilhas de corpos armazenados como feixes de madeira em praças públicas e em todos os olhares uma expressão de pânico enlouquecido ou de sombria resignação. As cenas no porto, o único meio de fuga de Caffa sitiada, teriam sido especialmente horrendas: turbas ensandecidas e guardas bramindo espadas, crianças lamuriando por seus pais perdidos ou mortos, gritos e praguejamentos, todos se empurrando na direção dos navios lotados e, para além da confusão, nas galeras que partiam, passageiros orando abraçados uns aos outros sob o enorme velame branco enfunado, ignorantes de que embaixo do convés, nos porões escuros e abafados, centenas de ratos portadores da peste de coçavam e farejavam a brisa marinha. (p. 28)
… o continente [Europeu] perdeu 25 milhões de seus 75 milhões de habitantes. Mas em certas partes da Itália urbana, do leste da Inglaterra e da França rural, a perda de vidas humanas, foi bem maior, ficando entre 40% e 60%. (p. 30)
A Peste Negra era particularmente cruel com crianças e mulheres, que morriam mais do que os homens, provavelmente porque passavam mais tempo dentro de casa, onde o risco de contágio era maior, e era mais cruel, entre todos, com as mulheres grávidas, que invariavelmente davam à luz antes de morrer. (p.31)
No século XIV, a guerra era quase tão constante quanto a fome. (p. 35)
O corpo humano, na Idade Média, estava em um estado tão espantoso quanto a rua medieval. (p. 37)
A passagem da peste para o homem é motivada pelo desespero da X. cheopis. Ela não gosta particularmente do sangue humano, mas, como a peste aniquila a comunidade local de ratos, as únicas opções da pulga são a fome ou o Homo sapiens. Depois de acomodada na população humana, a pulga do rato se torna um vetor de infecção muito eficiente. (p. 39)
Fonte: A Grande Mortandade, de John Kelly. Publicado originalmente em 2005. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. Bertrand, 2011
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