Tratado da Castidade de Afonso de Ligório
Tratado da Castidade de Afonso de Ligório

Tratado da Castidade de Afonso de Ligório

“Bem-aventurado os puros.”

No último feriado prolongado eu aproveitei o tempo de descanso para fazer a releitura desse tratado, o Tratado da Castidade, do reconhecido bispo católico italiano, Afonso Maria de Ligório (1696-1787).

Minha primeira experiência de leitura desse texto foi até recente, em agosto de 2022, porém desde então já sabia que a ele caberia várias releituras, pois é um livrinho muito bom, proveitoso.

Quem me acompanha aqui no Blog sabe que eu sou cristã evangélica, protestante. E tenho portanto várias e sérias divergências no que diz respeito a fé católica. Contudo, já li e leio também livros católicos sempre que tenho interesse. Acho importante dizer isso antes de mais nada.

O Tratado da Castidade, é um texto do século 18 sobre pureza sexual. Foi escrito para homens e mulheres, e tanto para pessoas dentro da fé católica que queriam se consagrar totalmente no voto da castidade, como para pessoas que queriam viver a castidade, mas na sociedade como solteiros ou casados. [não deixe de ler o último parágrafo desse texto]

O tratado é dividido em seis capítulos. No primeiro “Excelência da Castidade”, o religioso exalta a virtude da castidade, a coloca como algo de extremo valor… porém de difícil prática. Ele diz: o homem só pode ser casto por virtude. E a virtude em nós, seres tão fracos, só pode ser alcançada através de negarmos a nós mesmos e humildemente recebermos da Graça de Deus.

No segundo capítulo “Da vigilância sobre os pensamentos”, ele diz que não existe uma vida de castidade sem vigilância e essa vigilância sobre o que pensamos. É um capítulo muito interessante em que é feita uma separação de termos quanto aos nossos processos de pensamentos. Para Afonso de Ligório há um duplo engano quanto aos maus pensamentos. Existem almas, diz ele, que não possuindo o dom do discernimento, acham que todo pensamento mau que lhes sobrevêm é já um pecado. Outras almas, que tem um problema sério de consciência e por vezes mal instruídos, julgam o contrário, que maus pensamentos nunca são pecado. Segundo ele, ambas estão enganadas, porque a malícia do pecado consiste toda na má vontade (ou rebeldia), que se entrega ao pecado com claro conhecimento de sua maldade e plena deliberação (uma decisão convicta) de sua parte. O restante do desenvolvimento do capítulo se dá na consideração em separado dos conceitos: sugestão, deliberação e consentimento, aplicados ao pecado de pensamento.

O terceiro capítulo “Da modéstia dos olhos”, segue o ponto de que só haverá uma vida de pureza sexual quando houver uma vida de vigilância, e agora com vários conselhos quanto a concupiscência dos olhos. Como disse o sábio “os olhos não se cansam de ver” [1] e Agostinho “Do olhar nasce o pensamento, e do pensamento a concupiscência”. Esse e o capítulo 4 que já comento, foram os capítulos que mais me chamaram atenção. Numa sociedade hoje totalmente absolvida pela “imagem”, falar de uma modéstia dos olhos, e não só do meu olhar, mas do cuidado também do olhar do outro, da preocupação de não ser um tropeço para o outro, é só para quem tem o Espírito Santo, do contrário parecerá loucura. Louvado Deus por esse tão precioso presente que é o seu Espírito!

Então o quarto, é “Da guarda do coração”, Afonso de Ligório diz agora que de nada adianta vigiarmos sobre os nossos pensamentos e olhos, se não guardarmos o coração. E a respeito disso incrivelmente ele direciona sua análise e conselhos para as nossas amizades. É um capítulo interessantíssimo para qualquer pessoa que ama a Deus e quer realmente fugir da aparência do mal. Sua análise é dividida em três partes: da amizade, das amizades naturais e das amizades perigosas.

O quinto e o sexto capítulo respectivamente são: “Da virgindade” e “Do voto de castidade”. Em ambos os capítulos o religioso se dedicou a mostrar como existe uma grande vantagem em se manter virgem nesse mundo. Ele diz que por mais que uma pessoa possa servir a Deus dentro do casamento, é o solteiro aquele que pode inteiramente se dedicar as coisas de Deus (1º Coríntios 7:34). E nesse sentido dá alguns conselhos para aqueles que querem se manter virgens e castos no mundo.

Nesse comentário eu me esforcei para trazer um breve resumo desse tratado para dar uma ideia ao meu leitor do seu conteúdo. Nesse assunto da pureza sexual o Tratado da Castidade de Afonso de Ligório é um dos melhores textos que eu já tive acesso. A maneira como o religioso expõe o assunto é muito proveitosa porque é muito prática. Do que adianta o conhecimento a sabedoria se nada muda no seu dia a dia? Tenho certeza que os conselhos desse livrinho serão úteis para todos. Por isso eu o recomendo com as ressalvas que já fiz aqui quanto a fé católica. Ao longo da minha jornada como leitora uma coisa valiosa que aprendi é que devemos “reter o que é bom” [2].

Um adendo aqui também, é que essa leitura e releitura foram muito importantes para o aprofundamento das reflexões que tenho feito já há quase três anos sobre as redes sociais. Desejar a castidade e considerar uma vigilância do pensar, do olhar, da guarda do coração… e pensar no que é o Instagram, o Twitter, o Tik Tok, é uma coisa que não bate. Tenho receio que estamos subestimando demais os efeitos desastrosos que as redes sociais tem sobre nós. Estou há dois anos fora das redes sociais (Instagram, Facebook e Twitter), excluí meus perfis permanentemente, e foi a melhor coisa que eu já fiz. Sempre que posso gosto de comentar isso com as pessoas, talvez soe pedante para alguns, mas não me preocupo com isso. Minha intenção é dizer que há vida fora das redes e uma vida muito melhor.

[1] Eclesiastes 1:8
[2] 1 Tessalonicenses 5:21

Livro: Tratado da Castidade
Autor: Afonso de Ligório
Editora: Cristo e Livros, 2021
Páginas: 62
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★★★★

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2 comentários

  1. Apesar de estar num período agnóstico, embora continue a participar em celebrações católicas, sempre tive uma visão cristã abrangente e ecuménica, onde todos têm lugar. Compartilho o meu gabinete de trabalho com uma testemunha de Jeová, que penso estar também numa fase menos crente, está a passar por um período difícil e ela devido a doença do marido e relacionamento deste com um dos filhos e ela diz que de facto tenho sido uma grande ajuda. Desde que haja respeito pela fé ou não fé do outro, há sempre lugar para cooperação e conhecimento da cultura do outro.

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