Contos de Eça de Queiroz
Contos de Eça de Queiroz

Contos de Eça de Queiroz

O campo, na verdade, só é agradável com família, e toda árvore é triste se na sua sombra não brinca uma criança…” (p. 150)

A leitura desses contos foi o meu primeiro contato com o escritor português Eça de Queiroz. E acho que acertei uma boa porta de entrada, pois eu amei a escrita do autor, amei!

Essa coletânea da Martin Claret tem oito contos, que segundo o excelente texto de apoio da Cristina Garófalo Porini, representam várias fases da carreira do autor.

É normal na leitura de uma coletânea como essa gostar de alguns contos e outros nem tanto, porém eu gostei de todos sem exceção. São muito bons! O enredo, os personagens, a ambientação, o elemento surpresa ou o ponto de virada comum em contos… Assim, realmente a cada conto que eu lia eu gostava mais da escrita, do estilo desse escritor português.

O primeiro conto é o Civilização, tão bom que entrou para minha lista de favoritos. Ainda que eu não conheça muito sobre o autor, me pareceu ter muito dele nesse conto: o que ele pensava sobre toda a sofisticação e inovações que estavam invadindo o seu tempo. Tanto esse como Um dia de chuva me causaram uma forte impressão principalmente por eu estar lendo na mesma época o livro Os Inovadores de Walter Isaacson. Foi impossível não parar para refletir sobre todas as mudanças que a tecnologia continua trazendo para nossas vidas; e o ponto, o que o Eça questiona já em seu tempo através da sua literatura é se todo esse conforto e facilidades estão nos fazendo mais felizes, será?

Singularidades de Uma Rapariga Loira e No Moinho são contos surpreendentes. Ambos apresentam pontos de virada que me deixaram pensando por dias e porque, digamos, em ambos o plot da coisa está sob a personagem feminina da história. É aqui que percebi que o Eça tinha um bisturi nas mãos ao escrever, sem dó ele tece suas críticas e consegue descrever, dar nome há coisas que não gostamos nem de pensar, quanto mais falar sobre.

Para citar um enredo, o conto José Matias é sobre um homem que se apaixona por uma mulher, mas nunca a tem, e nem quando tem a oportunidade. É sobre como em matéria de relacionamentos, temos a tendência da idealização do outro, e às vezes tanto que podemos chegar a enxergá-lo como um deus. Em O Defunto também temos uma paixão, mas o ponto não é a idealização do outro, mas a tal consciência culpada. Como eu disse, o Eça nesses contos escreveu sobre coisas sensíveis e delicadas, das quais muitas vezes é até difícil para nós pobres mortais falar. E fechou para mim como um autor que entendia bem da sensibilidade humana no conto Um poeta lírico, que retrata nada mais nada menos que a sensibilidade da alma do artista e como esta mesmo, um maravilhoso dom, pode fazer dele um tolo infeliz.

Importante dizer que em todos os contos está presente uma crítica afiada a sociedade. E que também os oito são ambientados em vários marcos temporais diferentes; a própria época do autor (final do século 19), a Antiguidade, a Idade Média e o próprio tempo de Cristo em O suave milagre. O tema da religião cristã também é presente em todos os contos, num tom crítico sim, porém também sensível e belo como é o caso desse último citado, que inclusive é um conto que parece ser muito conhecido.

O Eça de Queiroz foi minha grande descoberta nesse primeiro semestre de leituras e talvez até do ano. Estou ansiosa para conhecer seus romances e fico feliz por saber que há muita coisa para ler do autor. Alguns títulos que tenho mais interesse são: Os Maias, O Primo Basílio, A Cidade e as Serras e O Crime do Padre Amaro.

+INFO Livro: Contos Eça de Queirós | Autor: Eça de Queiroz (1845-1900) | São Paulo: Martin Claret, 2006 | Coleção: A Obra-Prima de Cada Autor | Páginas: 176 | Amazon, Estante Virtual | ★★★★★

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2 comentários

  1. Eça é de facto um escritor com uma capacidade narrativa, domínio da língua e escrita e visão crítica da sociedade genial, conheço-o melhor dos romances e apesar de Os Maias ser a obra mais divulgada no ensino liceal, o que leva a ser a mais detestada pelos jovens e afaste muitos da leitura, ele tem romances pequenos de grande sensibilidade e agradáveis, mas a crítica social está sempre presente como “A cidade e as Serras” (o mais simpático e o meu favorito), “A capital”, “A Ilustre Casa de Ramires” e o “Conde de Abranhos”. Também tem duras críticas à hierarquia católica e religiosidade de beatas em Portugal do século XIX, como “O crime do Padre Amaro”, “A relíquia”. Ainda me falta ler um ou 2 dois dos seus romances como o “O primo Basílio” que penso fazer o retrato do emigrante português para o Brasil no seu regresso à pátria.

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