Quase Memória de Carlos Heitor Cony
Quase Memória de Carlos Heitor Cony

Quase Memória de Carlos Heitor Cony

Deslumbrou sobretudo o filho – que nele via o celebrante do Grande Rito e por isso jamais esqueceria o balão e o pai.

Passei mais de um mês lendo Quase Memória do Cony. Entre outras leituras, sempre pegava o livro, mas no máximo lia dois capítulos e parava. Não é o tipo de livro que eu conseguiria passar por ele rápido. Na minha opinião é o tipo de obra que exige um pouco mais de atenção – e de forma nenhuma por se tratar de um livro difícil de ler, mas pelo convite à calma, à sensibilidade.

Carlos Heitor Cony (1926-2018), foi um jornalista e escritor brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras, ganhador de vários prêmios literários, deixou uma grande obra entre romances, contos, crônicas e outros.

Cheguei ao autor por influência total do Rudi Baroncello e escolhi começar por Quase Memória por se tratar de um romance autobiográfico, uma narrativa de memórias, gênero que eu gosto muito.

Após terminar a leitura eu assisti uma entrevista do autor no programa Roda Viva de 1996, o que me levou a compreender que esse livro foi um ponto fora da curva daquilo que o Cony geralmente escrevia. Se trata do que vou chamar de um “livro homenagem”: as memórias de um filho sobre o seu pai. O que me fez lembrar muito de outro livro autobiográfico que faz esse mesmo movimento, só que ao inverso, A Queda de Diogo Mainardi, onde encontramos: as memórias de um pai sobre o seu filho. Talvez não só pela semelhança de movimento e do sentimento de pai e filho de filho e pai, mas, pelo tom melancólico de ambos.

A leitura me envolveu desde a primeira página. É um livro de memórias dos mais diferentes que eu já tenha lido. O recurso narrativo que o autor usou foi declaradamente misturar a ficção com as memórias reais, o que classifica esse livro também nas palavras do próprio autor como um quase romance.

Cony, abre o enredo com ficção: ele mesmo um personagem, logo após almoçar num restaurante de hotel, recebe das mãos do porteiro um pacote enviado “supostamente” e “misteriosamente” pelo pai que falecera há dez anos. E depois vai tecendo na ficção as histórias reais de uma vida completa, como ele interpreta a vida do seu pai, o peculiar Sr. Ernesto Cony Filho.

O contexto dessa vida completa e da própria vida do autor quanto narrador, é o Rio de Janeiro. Há muito da vida profissional do pai como jornalista, mas também dos seus infortúnios e empreendimentos como perfumista, vendedor de rádios etc. Seu pai era um homem que gostava de se envolver em projetos e para elaboração destes sempre tinha suas “técnicas”. Cony, oscila no tempo em sua narrativa ora engraçada ora melancólica, e cada vez mais melancólica conforme vai se aproximando o final do livro.

Em vinte e cinco capítulos conhecemos um pouco da personalidade e do relacionamento desse pai e desse filho que, no final das contas, é apenas um relacionamento comum de pai e filho que por vezes pode ser difícil, porém um dos mais importantes da vida humana. Talvez esse aspecto seja o que torna o livro tão tocante e sensível.

Quase memória recebeu dois prêmios Jabuti no ano de 1996: “Melhor Romance” e “Livro do Ano Ficção”.

PS. Obrigada Rudi.

– Entrevista Programa Roda Viva 1996
– Site Releituras – Resumo biográfico e bibliográfico Carlos Heitor Cony

Livro: Quase Memória, 1995
Autor: Carlos Heitor Cony (1926-2018)
Editora: Nova Fronteira, 2014
Páginas: 200
Compre: Amazon, Estante Virtual
★★★★☆

Descubra mais sobre CAFÉ FÉ E LIVROS

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

4 comentários

  1. Muito boa esta tua apresentação do livro.
    Do Cony, lembro de lê-lo na Folha de São Paulo. Escrevia mais sobre política. Porém o que guardei na memória (mais ou menos) é um conto : uma garota, ou garoto, que usava meias vermelhas quando sua mãe foi embora. Ela/ele nunca mais as tirou, pois assim, caso sua mãe voltasse, a/o reconheceria…
    Gostei da tua sensibilidade na leitura. O tempo. Ler com calma, sentindo a leitura.
    Abraço literário.

  2. Oi Kelly!
    Muito feliz que você gostou do livro! Quando você falou “ora engraçada” uma frase veio voando à minha cabeça: “Fechem as portas!” Kkkk

    Também assisti a essa entrevista no Roda Viva, o que me deixou com medo de ler as crônicas dele hehe
    Esse mês quero ver se pego Pilatos dele para ler

    Grande abraço!

Deixe uma resposta para Kelly Oliveira BarbosaCancelar resposta