O que aprendi com o arrependimento de uma menina de 9 anos
O que aprendi com o arrependimento de uma menina de 9 anos

O que aprendi com o arrependimento de uma menina de 9 anos

HÁ ALGUM TEMPO ATRÁS, estive em um certo lugar (um abrigo) para visitar uma menina, vou chamá-la aqui de Alícia (para resguardar sua identidade), que estava em disciplina em um quarto por causa do seu mau comportamento. Quando entrei ela estava sentada no chão em silêncio empilhando alguns brinquedos. Ela olhou para mim e rapidamente abaixou o olhar, então resolvi me sentar também no chão, ao lado dela. Eu disse:

“Então Alícia, o que aconteceu?” Ela olhou para mim e começou a contar tudo.

Dois dias antes, uma quinta-feira, a cuidadora chamou-lhe a atenção por causa de uma lição de casa que fora achada sem fazer. Alícia respondeu gritando que não iria fazer, a cuidadora foi mais firme, o que Alícia reagiu com muitas palavras feias e até um empurrão. Ela me dizia, foi por isso que estava ali naquele quarto.

Perguntei a ela se achava que sua atitude estava correta. Ela novamente abaixando o olhar disse que não. Eu fiz um momento de silêncio, e comecei mostrar a ela como sua atitude tinha sido desrespeitosa com aquela que estava cuidando dela e como deveria levar a sério seus estudos. Falei também acerca da ira, e a fiz ver onde estava seu maior erro, que foi dar vazão a sua raiva.

Por último, perguntei:

“Alícia, você já pediu perdão a Deus e às pessoas que você magoou?” Ela disse que não, que queria muito fazer isso, mas estava com vergonha. Eu então a convidei para orar comigo. Segurei suas duas mãozinhas e fechamos os olhos:

“Senhor, aqui está a sua filha e eu te louvo pela vida dela. Hoje ela não se sente muito bem e também não é um dia muito feliz para ela. Eu te peço Pai perdoe a Alícia pelos erros dela, por sua ira, por suas palavras feias e por toda sua raiva em Nome de Jesus…”

Eu abri os olhos e contemplei por um momento aquele semblante pequenino, estava de olhos fechados com a fronte levemente franzida em sinal de preocupação. Continuei:

“…Senhor eu te peço, que o teu Espírito Santo venha ajudar a Alícia a controlar a sua ira, ajude-a Senhor, transforme-a em Nome de Jesus! Que o teu Nome seja glorificado na vida dela…”

Nesse instante ainda orando, tomei-a nos meus braços. E senti suas lágrimas caírem.

“…Senhor que teu Espírito venha com poder na vida da Alícia, transforme-a, porque ela não tem força dela mesma, em Nome de Jesus. Amém!”

Ela disse:

“Amém!”

Ficamos unidas por alguns segundos e quando desfizemos aquele abraço, vi seu rosto ainda molhado se contorcer em um sorriso.

Beijei-a na testa e me despedi. Ela me disse que naquele dia mesmo procuraria sua cuidadora e pediria perdão.

A vergonha

Quando erramos, pecamos, magoamos alguém… não é difícil a constatação da falha, na maior parte das vezes, sabemos que estamos errados, a lei moral – quer gostemos disso quer não – está escrita dentro de nós (o que seja em um curtíssimo resumo “amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos”), e isso é verdade até se tratando de uma criança. O problema, o motivo que nos faz demorar, procrastinar a confissão a Deus, reconhecer diante do próximo que erramos e sabemos disso é a vergonha. Não queremos tocar no assunto, as palavras “eu pequei” “eu estou errado” ou além “eu menti” “eu fui um tolo” “eu estava com inveja” “eu cobicei” etc., são extremamente difíceis de serem pronunciadas. Para Deus, nossa confissão muitas vezes é em pensamento; para as pessoas, quando conseguimos confessar algo, tendemos falar em voz baixa. É a vergonha, é a sensação de humilhação, de estar sendo insultado pelo fato de se deixar ver em falta. É o mesmo que Adão e Eva sentiram, assim que caíram em si da loucura do seu pecado, se esconderam; e quando confrontados, a vergonha os fizeram também negar, tentar lançar a culpa em outro – Adão para Eva e para o próprio Deus, Eva para a serpente.

A vergonha faz-nos fugir, esconder, evitar. Como Alícia, a vergonha nos faz preferir ficar num quarto trancado com a cara emburrada demonstrando alguma superioridade a se humilhar, reconhecer, confessar, arrepender para receber o perdão. Que triste a nossa situação humana! Tal reação é tão parte de nós quanto um braço ou uma perna. O que fazer?

A verdade é que precisamos mais do que o perdão, precisamos antes de ajuda para nos arrepender. Sem o Espírito Santo que age em nós, muito além do segurar das nossas mãos e orar conosco como fiz com aquela menina, somos totalmente incapazes de reconhecer nossos pecados ou mesmo nos retratar de coração e de verdade com o nosso próximo. Sem o Espírito da Verdade, que nos convence do pecado, da justiça e do juízo; faremos o mesmo que Adão e Eva, o mesmo que Alícia a princípio, o mesmo que eu fiz muitas e muitas vezes, nos isolaremos de Deus e das pessoas.

É por isso que o Espírito nos conduz ao arrependimento pelo caminho da humilhação, pelo caminho das lágrimas, pelo caminho que só dá para passar de joelhos. É por isso que aquele que se entrega a Deus e ao próximo abre mão de si mesmo, do seu ego, da sua vontade. Esse caminho é difícil, mas o fim dele é alegria, liberdade e Vida.

– Imagem: aqui


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