Uma nota sobre o livro de Atos: Eu acredito na igreja!
Uma nota sobre o livro de Atos: Eu acredito na igreja!

Uma nota sobre o livro de Atos: Eu acredito na igreja!

Estou lendo o livro bíblico de Atos dos Apóstolos nesse mês de maio. Lucas, o médico, autor também do Evangelho de Lucas, narra os primeiros passos da igreja primitiva logo após a ressurreição de Jesus Cristo. A espera dos discípulos pela descida do Espírito Santo em Jerusalém; o Dia de Pentecostes; o sermão de Pedro que levou quase três mil pessoas ao batismo de arrependimento; a comunhão entre os primeiros crentes; os milagres; a conversão de Paulo… Tudo isso faz desse, um livro maravilhoso que aquece o coração de qualquer cristão, enchendo-o de amor e temor diante da presença de Deus. Sim, é verdade!

Porém a essa altura da leitura (capítulo 11) me incomodou. Há um inevitável choque de realidade ao olhar através das páginas das Sagradas Escrituras para a igreja primitiva frente a igreja atual. E sem dúvida esse não é um questionamento novo e nem fácil de ser resolvido dentro das nossas mentes. Muitos tem desacreditado da igreja com o argumento que ela não é mais o que deveria ser. Por causa de escândalos e outras decepções criticam a igreja, deixando de frequentar as congregações e tentando (ou pelo menos dizem que sim) buscar Deus sozinhos no conforto de suas casas. Mas sempre que me deparo com isso, ou seja, com o estado atual da igreja, me lembro do que C.S.Lewis escreveu em seu famoso livro “The Screwtape Letters” (Cartas de um diabo ao seu aprendiz; ou Cartas do diabo), onde um demônio mais velho ensina a um demônio aprendiz em como fazer perder-se a alma de um humano, em certa parte em ironia ele diz (ou seja um diabo falando a outro):

“Hoje em dia, um de nossos aliados é a própria Igreja. Mas não me compreenda mal: eu não estou falando da Igreja que se propaga através do tempo e do espaço, ancorada na Eternidade, terrível como um exército agitando seus estandartes. Isso, devo confessar, é um espetáculo que incomoda até nossos mais audazes tentadores. Felizmente, é algo praticamente invisível aos humanos. Tudo o que o seu paciente [o humano] vê é o prédio […] Quando ele entra, vê o dono da mercearia com uma expressão falsamente amigável no rosto, apressando-se para oferecer-lhe um livrinho com a liturgia que nenhum dos dois compreende, e um livrinho gasto, contendo textos alterados de vários cantos religiosos, a maioria ruim, e em letra bem miúda. Quando ele se senta num banco e olha em volta, vê apenas as pessoas que evitara até então. Faça com que seus pensamentos flutuem, indo de expressões como “o corpo de Cristo” para os rostos no banco ao lado. Obviamente, não importa muito que tipo de pessoa ocupa o banco ao lado. Talvez você até saiba que uma dessas pessoas é um grande guerreiro do exército Inimigo. Não importa. O seu paciente, graças ao Nosso Pai nos Infernos, é um tolo. Se alguma dessas pessoas cantar desafinado, ou usar botas com solados barulhentos, ou tiver queixo duplo, ou roupas deselegantes, o paciente facilmente acreditará que a religião deles deve ser de algum modo ridícula. Perceba que, em seu estágio atual, ele considera “espiritual” a ideia que faz dos “Cristãos”, mas essa ideia é, na verdade, em grande parte, pictórica. Sua imaginação está cheia de togas e sandálias e armaduras e pernas nuas, e o mero fato de as pessoas na igreja usarem roupas modernas é um verdadeiro obstáculo para ele – embora, claro, isso seja inconsciente. Nunca deixe que esse obstáculo se manifeste completamente, nunca o deixe perguntar-se como ele esperava, afinal, que elas se vestissem. Por enquanto, deixe tudo confuso em sua mente, e você terá toda a eternidade para desfrutar do poder de proporcionar-lhe a peculiar clareza que o Inferno traz […] Até o momento, sempre escrevi tendo em mente que as pessoas do banco ao lado, na igreja, não oferecem nenhuma base racional para a decepção. Mas é claro que, se oferecerem – se o paciente souber que a mulher com chapéu ridículo é viciada em jogar bridge, ou que o homem com as botas barulhentas é um sovina e um extorsionário -, sua tarefa ficará bem mais fácil. Tudo o que você terá de fazer é nunca deixá-lo fazer a si mesmo a seguinte pergunta: “Se eu, sendo o que sou, me considero em algum nível um Cristão, por que os defeitos das pessoas sentadas no banco ao lado seriam prova de que a religião delas é pura convenção e hipocrisia?” Talvez você fique se perguntando se é possível até mesmo uma mente humana não conseguir pensar em algo tão óbvio. Mas é, Vermebile, é! Manobre o seu paciente da maneira certa e esse pensamento jamais lhe ocorrerá.”

A Igreja de Cristo é bem mais que qualquer mente humana pode conceber. Jesus mesmo disse: “edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18b). Lembremo-nos que não se trata de uma estrutura humana, baseada nas nossas capacidades ou limitações; a Igreja é o Corpo de Cristo, formado por todos aqueles que foram chamados por Ele. Homens e mulheres pecadores, imperfeitos e comuns. O que exatamente estamos esperando que a igreja seja?

Eu vejo o que é descrito em Atos, como a largada da grande corrida. Um despertar grandioso, uma base para que os corredores seguintes pudessem se espelhar. Havia falhas ali também, não vamos falar disso hoje, mas tudo era maravilhoso demais, sobrenatural e concentrado em um número de homens que ainda era possível contar…

Mas agora a igreja está provavelmente na reta final da corrida. Nem tudo é maravilhoso e grandioso, mas a igreja ainda é a Igreja, a Noiva de Cristo.

Não a abandone.
Chore por ela.
Sofra com ela.
Estamos na reta final!

*Livro citado com grifos e destaques nosso: Cartas de um diabo ao seu aprendiz, de C.S.Lewis, São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014, 202 pg.


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2 comentários

  1. De tantos ataques que a igreja já sofreu ao longo da história é inacreditável que grande parte dos ataques atuais seja feito por cristãos. Estou falando dos desigrejados que pregam contra o “congregar” e tratam todas as instituições como sendo “o” problema do cristianismo. Além disto sabemos de pastores e lideres desacreditados, o que prejudica ainda mais a igreja (falo igreja local).

    Eu também acredito na igreja, defendo e luto por ela.

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