Por C.S.Lewis:
ACHO que há épocas na vida em que podemos até não desejar o céu; mas muitas vezes me pergunto, admirado, se lá no fundo de nosso coração já desejamos algo diferente disso. Você já deve ter notado que os seus livros prediletos estão ligados uns aos outros por um laço secreto. Você sabe muito bem qual é essa qualidade comum que faz com que você os ame, embora não consiga expressá-la em palavras; mas a maioria dos seus amigos não consegue enxergar esse laço e geralmente se pergunta por que, quando você gosta disso, tem de gostar daquilo também. Voltando ao exemplo: você está parado diante de uma paisagem que parece incorporar o que você passou a vida toda procurando. Então você se volta para o amigo ao seu lado que parece estar vendo o que você viu. Acontece que já nas primeiras palavras um abismo se abre entre vocês. E então você se dá conta de que essa paisagem tem um significado totalmente diferente para ele; você percebe que ele defende uma visão alienada e que nem liga para o que você foi levado a ver. Mesmo no que diz respeito aos seus hobbies, já não houve uma atração secreta que os outros estranhassem ou nem conhecessem? Algo que não pode ser revelado, mas que está sempre na eminência de ser exposto, como o cheiro de madeira cortada dentro da oficina ou as batidas da água na lateral do barco?
LEWIS, C.S. Um ano com C.S.Lewis, Editora Ultimato, 2005, pg 131 (Leitura diária 21 de abril, da Obra O problema do Sofrimento)