Prato Sujo de Marcia Kedouk

“Desde que o mundo é mundo, seu cérebro se prostitui em troca de calorias. Ele até sabe que salada é mais digna para a saúde, mas se vende por qualquer porção de gordura e açúcar que apareça. Isso vem de longa data. Como nossos ancestrais não podiam comprar filés de batatas congeladas no mercado mais próximo, saíam a caça para garantir o jantar. Só que nem sempre o dia de trabalho rendia.”

Pensei bastante se escreveria sobre este livro aqui. Comprei ele na época que acompanhava a revista Super Interessante, e é inegável que ele tem um tema interessante, mas não é o tipo de livro sobre o qual costumo falar por aqui, até porque não é o tipo de livro que e pararia para ler sobre. Talvez por isso eu tenha levado tantos anos para tirá-lo da estante.

Enfim, a premissa do livro é bem óbvia, comida processada faz mal, mas é o que mais comemos, é o que é produzido em larga escala, mas não porque a indústria alimentícia quer nos envenenar aos poucos, como a autora diz, eles fazem isso porque é isso que o povo quer.

A obra compila muita informação realmente relevante sobre nutrição e a produção de alimentos, e só por isso ele já vale a leitura, mas é um livro gordo (irônico, não?). A autora conduz bem suas explicações durante boa parte de sua narrativa (posso chamar de narrativa, mesmo não sendo um livro de ficção?) mas o livro é recheado de tabelas que não agregam tanto a leitura e que parecem estar ali só para ocupar espaço e tornar o livro maior.

Um exemplo disso é  uma seção chamada de Manual da Sedução: Como fazer clientes e influenciar consumidores, caso você seja um produto de supermercado. Pra mim que já trabalhei muitos anos em supermercado o que é falado nessa seção não é lá uma grande revelação, já sabia disso na prática, mas talvez pra alguém que vai no mercado no piloto automático e sem pensar muito no ambiente pelo qual caminha seja uma descoberta incrível, mas mesmo que seja o caso, não havia necessidade disso estar em formato de lista, destacado do corpo do texto para ocupar mais espaço.

Além disso temos seções com contagem de calorias e transcrição de rótulos de produtos, mais especificamente da parte dos ingredientes, isso colabora para o que está sendo dito no livro? Até que sim, mas se estende muito mais do que o necessário.

Ela não chega a demonizar os alimentos, é até bastante contida ao falar dos problemas, mas dá uma escorregada aqui e ali, pequenas, mas perceptíveis, de que meio que vive em Nárnia, como se fosse possível uma revolução alimentar, mas são poucos momentos, como disse ela é bastante realista sobre a alimentação. 

O livro é dividido em duas partes e doze capítulos, além do posfácio. Em cada capítulo e a fala de forma descontraída e demasiadamente minuciosa sobe diferentes problemas, ou não, da alimentação diária. É um livro interessante, cumpre o que promete, que é apresentar o problema, não chega exatamente a sugerir uma solução, mas fala de supostas soluções que não são, realmente, viáveis. Vale a leitura, mas não vai te tornar um expert no assunto. Depois da leitura a gente percebe que não dá pra se radical, mas dá pra melhorar muito.

*Publicado originalmente em 17/09/2023, no Hiattos.

Rudimar Baroncello

Um jovem senhor que gosta muito de ler. Criador do blog Hiattos onde fala, lá de vez em quando, sobre suas leituras.