“Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma.”
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Eu cheguei a publicar um post sobre esse conto na primeira leitura que fiz, quando o blog estava hospedado no blogger (republicado aqui), mas novas reflexões surgiram.
Não importa o tamanho do texto, um conto, uma poesia que seja, quando o mesmo é bom, em cada releitura aquilo se expande muitas vezes em uma nova percepção. O texto se transforma, ou transforma-nos.
Negrinha é um conto que te puxa para dentro dele e então te joga no chão. Profundo. Duro. Triste. Impossível de se manter distante, frio enquanto se lê.
A narrativa é impecável. Tudo está no seu lugar para funcionar e causar o efeito que causa no leitor, não dá para tirar nem acrescentar.
A menina preta sem nome. A senhora branca de sobrenome. A alma do ser humano é revelada, a miséria de todos nós. Podemos ser a menina, podemos ser a senhora. Mas podemos também é verdade: ser o padre, as sobrinhas, os outros personagens passivos a tudo aquilo, aqueles que não fazem nada a não ser achar cômico ou enaltecer os egos. Não importa. Até nossa desigualdade é uma questão de misérias.
O padre, é preciso deter-se aqui. Lobato mostra como os seres mais terríveis podem revestir-se, esconder suas maldades, sob a capa da religiosidade. Um flagrante.
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Eu simplesmente amo essa pintura!
Ela é incrível!
Não conheço a autora e logicamente o conto, mas pareceu-me uma forte crítica os defeitos da sociedade estabelecida.
Relativamente ao comentário que fez num artigo mais antigo de Geocrusoe, é verdade que mesmo em livros o blogue já tem um arquivo grande de resenhas e com vários anos.
Já li vários Afonso Cruz, um escritor original que gosta de misturar situações históricas e reinterpretá-los com imaginação e criatividade. O romance dele que mais gostei foi “A boneca de Kokoschka” e enquadra-se neste género. Com um estilo bem mais juvenil “Os livros que devoraram meu pai” tem o interesse de falar de aspetos contidos em vários grandes clássicos da literatura de forma a cativar o leitor para essas leituras.
Alguns livros dele valeram mais pela forma do que pelo conteúdo da mensagem que era pouco, mas escreve muito bem.
O conto é sim uma crítica!
Estou lendo seus posts mais antigos, creio encontrar muito do que me interesse.
Qual livro você me indicaria para começar a ler Afonso Cruz?
A Boneca de Kokoshka, é um livro num género muito original. Os livros que devoraram meu Pai, é muito mais juvenil, mas pode ser interessante e mais interessante.
Obrigada!
Li esse conto no livro de aniversário de 3 anos da TAG, e ele me destruiu.
è muito como você diz, podemos, muitas vezes, não ser a megera que é a vilã mais visível da história, mas nossa omissão nos torna cúmplices das injustiças
Esse é o ponto!
Abs Rudi.
Mesmo o conto sendo ambientado no período em que a escravidão já havia sido abolida, os costumes ainda continuavam senfo os mesmo, pouco havia muda do para os negros.
Verdade.
Gosto muito desse conto. Uma crítica à sociedade escravocrata do Brasil.