Reflexões de uma Leitora Cristã - Resenhas de Livros, Literatura, Teologia e Devoção
O Livro de Jó de Matheus Negri
O Livro de Jó de Matheus Negri

O Livro de Jó de Matheus Negri

Jó é um livro extraordinário. Já li e reli seus 42 capítulos várias vezes de forma devocional, mas esse ano resolvi estudá-lo. Foi assim que cheguei à pequena obra de Matheus Negri, “O livro de Jó: Uma introdução”, e que bom, gostei muito da proposta e do que foi apresentado.

Na tradição bíblica o livro de Jó faz parte juntamente com Provérbios e Eclesiastes dos livros da Sabedoria de Israel, também conhecidos como livros sapienciais, que trazem como tema principal “o temor a Deus”. Cada um deles possui sua variedade de gêneros: provérbios, admoestações, confissões… no sentido de instruir o seu leitor a adaptar a própria vida à ordem fundamental do mundo, ou seja, conselhos práticos para o dia a dia. Em Jó são empregados provérbios e admoestações nos diálogos, onde surgem lamentações, hinos e ações judiciais tudo ligado ao enredo.

No senso comum o livro de Jó trata do sofrimento humano, entretanto ao introduzir esse livro bíblico Matheus Negri aponta para as diferentes interpretações e teologias nele encontradas e suas implicações. Uma delas é que o que parece está em questão não é o sofrimento humano mas a credibilidade de Deus.

A história bíblica apresenta um homem chamado Jó que era “íntegro, reto e temente a Deus que se desviava do mal” e por isso muito abençoado (bens materiais, saúde, família…); mas que em algum momento passa por um extremo sofrimento. O que entra em conflito aqui segundo os autores citados por Negri é a teologia da retribuição, na qual o justo é abençoado e o injusto paga pelas suas atitudes. Uma vez que, se Jó estava sofrendo é porque tinha pecado – e nesse sentido era acusado pelos seus amigos – porém Jó tinha convicção que não havia pecado defendendo-se o tempo todo e acusando portanto, Deus de injustiça. O próprio Deus é apresentado em várias concepções diferentes. Deus para os amigos de Jó era o Senhor da retribuição. Deus para Jó inicialmente também era o Deus da teologia da retribuição, mas sofre e se queixa por saber que não cometeu pecado; então para Jó Deus estava violando sua própria lei, é ausente quanto ao sofrimento de suas criaturas e criou um mundo sem significado. E ainda a concepção do próprio Deus (a partir do capítulo 38) o Senhor que se revela em um redemoinho ou em uma tempestade.

O autor também trata sobre a unidade prosaica e a unidade poética da história. A unidade prosaica seria a parte narrada, constante no início do livro ou prólogo, na apresentação de um novo amigo de Jó “Eliú” (no capítulo 32) e no desfecho ou epílogo. Dentre as coisas levantadas nessa unidade, destaco como bem no início do livro (capítulo 1) já fica explícito o pensamento dos israelitas, toda a prosperidade de Jó estava ligada à sua piedade; por ser íntegro, temer a Deus e afastar-se do mal, tudo em sua vida ocorria bem. São claros os reflexos ou manifestações da teologia daquele tempo, baseada no sistema de retribuição, uma crença comum e antiga de que Deus recompensa os bons e castiga os maus. Entretanto isso é colocado em discussão no próprio livro em sua unidade poética, que é composta pelos ciclos de discursos entre Jó e seus amigos incluíndo Eliú e os dois discursos de Deus com respostas de Jó. Nessa parte a teologia da retribuição é defendida pelos amigos Elifaz, Bildade e Zofar, cada um à sua maneira. Jó também demonstra acreditar fielmente na retribuição, mas entra em agonia: não pecou e está sofrendo!; então passa a enxergar Deus como o seu adversário. Na intervenção de Eliú temos o sofrimento como algo que aproxima o homem de Deus. E finalmente, Deus apresenta-se como Criador do universo, questiona Jó sobre coisas inimagináveis ao ser humano e mostra como é tolice para o homem querer participar dos segredos e mistérios divinos, indicando já – talvez – para os mistérios de sua Graça manifestas em seu Filho, que se oporia e complementaria ao mesmo tempo, o que foi revelado para Israel.

A teologia da retribuição é uma ordem divina ou uma invenção humana? É isso que o desfecho desse ótimo trabalho vai responder com considerações sobre uma possível e importante aplicação dessa antiga história para contemporaneidade.

Esse livro foi publicado de forma independente pela Amazon. Tem formato acadêmico – fator que me agradou muito pela dinâmica conhecida. Apesar de breve, o autor cumpri bem com o que se propõe: uma introdução ao livro de Jó; baseando-se em muitos autores, conflitantes entre si as vezes, o que também agrega bastante. Recomendo para quem já leu o livro de Jó e tem interesse em saber mais sobre ele.

Livro: O Livro de Jó: Uma introdução
Autor: Matheus Negri
Publicado na Amazon Brasil
Amazon
★★★★☆

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