Fazia tempo que eu estava querendo ler um livro do Pondé. Dos três ditos intelectuais brasileiros, isso é, daqueles que mais aparecem na mídia: Clóvis de Barros, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé. O Pondé é sem dúvida o que mais parei para ouvir até hoje; pois apesar do seu ateísmo declarado, assumido e as vezes irônico, suas ideias sempre me chamaram atenção.
Como estamos vivendo? Por que fazemos o que fazemos? A Era do Ressentimento é uma análise crítica (e ácida) do mundo contemporâneo. Pondé nos apresenta ao mar do caos cotidiano no qual, segundo ele, estão mergulhados todos (a maioria de nós) os ressentidos. Ele nos ridiculariza ao prever como as gerações futuras lembrarão de nós: “Lembrarão de nós como mimados, ressentidos e covardes. Rirão de nosso apego ao voto democrático e de nossa fé em manifestações do povo.” E nos oprime ao explicar o que entende por ressentimento:
“O ressentimento é uma forma invisível de cegueira.”
É um livro desconfortável. De maneira geral ler sobre a realidade humana sempre incomoda, mas a visão de alguém como esse autor pode ser claustrofóbica.
Entretanto, acho sempre muito interessante conhecer as diferentes percepções das pessoas quanto ao entorno à nossa volta. É incrível, eu diria, como todos os homens em todas as épocas, quando sinceros, narram perceber o caos no mundo; e mesmo em nossa era, com todo o nosso politicamente correto e tantas bolhas de ilusão, muitos ainda conseguem ver a própria escuridão.
Para um cristão verdadeiro, saber que o mundo está um caos não é saber nada novo e nem motivo de espanto, o que choca talvez, é a desesperança cega dos homens. Enxergar a própria perdição sem conseguir ver um meio de salvação é mesmo desesperador.
Gostei do formato do livro, textos curtos (aforismos). Tão rápido de ler quanto as coisas giram em nosso mundo. Todos os capítulos são relevantes, sem muitas repetições… Porém, não gostei tanto do estilo de escrita do Pondé, acho que esperava mais.
Alguns assuntos tratados no livro são: narcisismo, solidão, perfeição, beleza, redes sociais, feminismo, esterilidade, consumo, psicologia, secularismo, religiosidade… Sobre esse último, como um ateu, ele não deixa de fazer críticas brutais às religiões e principalmente, de maneira muito conveniente, ao cristianismo. Não há (pelo menos eu não vi) um comentário sequer citando os muçulmanos ou o Islã. E olha que em vários momentos, seguindo seu raciocínio, por exemplo, falando-se em radicalismo, qualquer um honestamente chegaria a religião mais radical do mundo, mas não, o que a maioria dos ateus fazem covardemente é só falar mal do cristianismo, chamando os cristãos de radicais violentos e perigosos enquanto fecham os olhos (e alguns até aplaudem) para aqueles que estão matando pela sua fé em tempo real. Não é absurdo?
Enfim, recomendo a leitura e que cada um tire suas conclusões. Leia mais!
Livro: A Era do Ressentimento
Autor: Luiz Felipe Pondé
São Paulo: Editora Leya, 2014
Páginas: 176
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★★★★☆
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