Myriam e Paul estão sobrecarregados. Adoram repetir isso, como se esse esgotamento fosse precursor do sucesso.
Suas preocupações se mostram como elas são: pequenas preocupações do cotidiano, quase caprichos.
Nessa volta aos romances policiais resolvi garimpar meu Kindle. Criei uma coleção com todos os e-books que fui adquirindo ao longo dos anos que jugo ser romances policiais ou algo do tipo. Tudo bem que ao separar Canção de Ninar nessa coleção errei feio, porque o livro não é sobre nenhuma investigação policial. Mas acabou que foi bom ter lido. Esse livro me surpreendeu demais.
Canção de Ninar (Chanson Douce, 2016) chegou ao Brasil em 2018 pelo selo Tusquets da editora Planeta. É um romance da escritora e jornalista franco-marroquina Leïla Slimani. Ganhador do prêmio mais importante da língua francesa, o Goncourt.
Bom e o que falar dele, difícil. Esse livro envolve a gente de tal forma. É tão perturbadoramente atual. Que só lendo para entender. Mas vamos tentar.
Nas primeiras páginas do livro nos é apresentada a terrível tragédia que acaba de acontecer no apartamento dos Massé. Os dois filhos pequenos do casal Myriam e Paul, foram brutalmente atacados. O menininho faleceu e a menininha não irá resistir aos ferimentos. A babá, Louise, ao que tudo indica tentou suicídio, mas irá sobreviver.
Numa narrativa que incrivelmente te prende do começo ao fim, a autora desenvolve sua história que é muito mais, como alguns leitores comentaram, sobre o “porquê” do que sobre “o quê” aconteceu.
A Mãe e a Babá
A mãe e a babá, Myriam e Louise, são as protagonistas. E a temática, ou melhor o conflito e drama da maternidade no “caos do mundo contemporâneo” é explorada. Uma mãe que não precisa trabalhar realmente para se sustentar; que sacrifica o cuidado dos filhos na verdade, porque a maternidade lhe é insuportável. Uma babá estrangeira, que todos dizem perfeita, pois vai muito além da função de cuidar carinhosamente das crianças e, lava, passa e cozinha sem cobrar nada a mais por isso; aquela que todos julgam “ser” e “estar” ótima, mas que guarda dentro de si seus traumas, seus pensamentos tenebrosos.
E os outros personagens. O pai das crianças, Paul; aquele que achou muito legal ser pai, mas afirmou para todos no trabalho que não queria que sua vida mudasse; aquele que não queria que a esposa trabalhasse, mas não tinha nenhuma ajuda ou apoio a oferecer a não ser a do próprio dinheiro; aquele que foi o primeiro talvez a perceber algo estranho com a babá, mas não fez nada para proteger a família. As próprias crianças, as maiores vítimas nisso tudo…
Esse é um livro que com certeza não vou me esquecer tão cedo. Um livro que mexeu comigo e mesmo considerando que eu não seja mãe. Acontece que é assustador pensar que muito do que é narrado aqui, falo do cotidiano dessas personagens, é mesmo a realidade de pessoas de qualquer grande cidade. A verdade é que a leitura me deixou melancólica. Melancolicamente reflexiva.
Canção de Ninar não é um livro de entretenimento. Longe disso, é um livro para pensar como estamos vivendo a vida nesse… no que chamo caos do mundo contemporâneo. Além da maternidade, o livro explora temas como: a relação patrão e empregado, imigração, criação de filhos e outros. Recomendo demais!
Livro: Canção de Ninar (Chanson douce, 2016)
Autora: Leïla Slimani (1981- )
Editora Planeta do Brasil, 2018
Páginas: 192
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★★★★★
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Pois lembro-me que já falara deste livro no Instagram… não conhecia nada nem da autora nem do romance.
Olá Carlos! Pelo que acompanho das tuas leituras, imagino que vais gostar. Abs!
Oi Kelly, você me deixou muito curioso a respeito desse livro, os dramas maternos me lembrou os livros da Jodi Picoult, não sei se já leu, mas todos tem dramas maternos, situações muito delicadas e um julgamento. Gosto bastante da autora e ela (quase) sempre me arranca umas lágrimas… só não Leia Uma Questão de Fé, vai passar muita raiva hehehe
Longos dias e belas noites Sai
Oi Rudi,
Acho que você vai gostar de “Canção de Ninar”, quando puder dá uma chance para ele.
Qualquer dia desses vou ler a Picoult sim (e você sabe que eu leio mesmo kkkkk)