Por C.S.Lewis:
DEUS não exige muito do nosso tempo, nem da nossa atenção. Ele não exige nem todo o nosso tempo nem toda a nossa atenção; é a nós mesmos que ele quer. Valem para nós as palavras de João Batista: “Importa que ele cresça e que eu diminua”. Deus será infinitamente misericordioso em relação às nossas repetidas falhas; mas não conheço nenhuma promessa de que ele aceitará uma negociação deliberada. Em última instância, ele não tem nada a nos oferecer a não ser a si mesmo; e Deus só pode nos dar isso na medida em que a nossa vontade autossuficiente se retrai, abrindo espaço para ele em nossa alma. Não tenhamos dúvida em relação a isso. Não restará nada “de nós mesmos” para vivermos, nenhuma vidinha “normal”. Não quero dizer que todos nós vamos necessariamente ser chamados para sermos mártires ou ascetas. Se acontecer, que aconteça. Para alguns (não sabemos quem), a vida cristã incluirá muito lazer e muitas ocupações naturalmente prazerosas. E isso será recebido diretamente das mãos de Deus. Para um cristão perfeito isto seria tão próprio de sua religião, do seu “serviço”, como as tarefas mais difíceis, e seus banquetes seriam tão cristãos quanto seus jejuns. O que não podemos admitir de forma alguma – e que deve existir somente como um inimigo não derrotado, mas ao qual se resiste diariamente – é a ideia de que tenhamos algo “só nosso” a conservar; alguma área de nossa vida que esteja fora da jogada e sobre a qual Deus não tenha nada a reivindicar. Deus exige tudo de nós, porque ele é amor e é próprio dele nos abençoar. No entanto, ele não pode nos abençoar enquanto não nos possuir por completo. Sempre que tentarmos reservar uma área de nossa vida como propriedade particular, estaremos reservando uma área onde impera a morte. Por isso é que ele exige, com todo amor, que nos entreguemos por inteiro. Sem chance de barganha.
LEWIS, C.S. Um ano com C.S.Lewis. Editora Ultimato, 2005, p. 46 (Leitura diária 02 de fevereiro, Peso de Glória)
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