As Ilusões da Vida

Um dos maiores ganhos que eu recebo hoje por ter começado um Blog lá em 2014, aos vinte e seis anos – cheia de força, cheia de sonhos, cheia de imaturidade – é conseguir através das minhas palavras de antes, encontrar a Kelly de antes. Não sei se eu conseguiria me lembrar tão nitidamente de quem eu já fui sem esses registros… Não sei se eu conseguiria olhar tão bem nos meus olhos de menina e saber quantas e quantas ilusões eu tinha, e quanto e quanto eu mudei a medida que uma a uma, como frutas maduras caindo de uma árvore, minhas ilusões foram caindo…

Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,

Eu era feita em grande parte de ilusões – em grande parte – e de confusões, tudo era fosco, embaçado, porém o tempo todo, eu, eu mesmo, eu hoje, estava lá. Iludida, confusa, mas já estava lá.

Que vales tu, desilusão dos homens?
Tu que podes, ó tempo?

Não vou dizer que é legal olhar para trás, olhar para os meus olhos de antes. Mas também não é ruim. É um ganho, um privilégio eu diria.

Consigo olhar não só através desse Blog – que já tem várias postagens antigas ocultadas (nem tente rs) -, mas também por outros registros escritos, e isso porque sempre escrevi. O escrever já estava lá, sempre esteve, como eu disse, eu já estava lá mesmo quando nem tudo era nítido.

Fico feliz em saber que as desilusões vieram e minhas flores prematuras, meus primeiros frutos, murcharam e caíram. Eram quase que feitos de ilusão e confusão e não valiam mesmo a pena. Fico feliz de verdade, porque, depois, novas flores e novos frutos vieram.

Sabe, gosto de lembrar das coisas, dos processos, dos dias e noites, e pensar… É assim que hoje sei que…

Quando da minha fronte de macebo
A última ilusão cair, bem como
Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono, Ah! no teu seio amigo
Acolhe-me, – e haverá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusões que teve,
A paz, o último bem, último e puro!

É melhor, é melhor para mim assim.

– Citação de versos de Machado de Assis, Crisálidas, 1864.

Kelly Oliveira Barbosa

Cristã, leitora e escritora – “Batei na pedra e tesouros jorrarão.” Livros publicados: Para que não seja esquecido (2020) e Maria José Gherard dos Santos: Minha Vida (2023).