“De tudo o que Deus fez, o homem é, certamente, a mais nobre de todas as criaturas do mundo. Mas, por causa do pecado, o homem se tornou desprezível.” (p.53)

Um livro sobre tentações

John Bunyan, foi um escritor e pregador cristão batista, nascido em 1628 na Inglaterra. Bunyan ficou 12 anos preso por causa da pregação do evangelho, período em que ele escreveu algumas obras, dentre elas Graça Abundante em 1666 e a mais famosa O Peregrino em 1678.

Graça Abundante ao principal dos pecadores, é a autobiografia do autor, em que ele conta sobre sua experiência de conversão e expõe as lutas que ele passou com muitas tentações a partir disso.

Ele abre sua autobiografia dizendo: “Nesse relato do misericordioso proceder de Deus para comigo…” O que ele se propôs nessa obra, e de uma forma muito corajosa, foi revelar o seu processo com Deus, a obra que Deus realizou em sua vida. E principalmente o que aconteceu do lado de dentro. Acredito que esse seja um dos pontos mais poderosos desse livro, que fez dele um clássico cristão lido até hoje. Bunyan se expõe. Ele mostrou suas fraquezas e como Deus lidou com elas. Várias vezes no livro ele diz por exemplo que vencia por um ou dois dias uma tentação e caia de novo e como Deus o levantava outra vez. E isso é tão humano, tão real na caminhada da fé que nos ensina como realmente o que Deus faz no ser humano é uma OBRA DA GRAÇA, que só Ele pode fazer.

Outro ponto que me chamou muito atenção na obra é a convicção de Bunyan quanto à realidade do céu e do inferno. As principais tentações que ele descreve ter enfrentado foram: questionar o ser de Deus e a veracidade do evangelho. Porém, mesmo quando ele estava lá embaixo, desacreditado que Jesus podia salvar sua alma, ele mesmo assim, não questionava em nenhum momento a existência do inferno ou a realidade da condenação eterna. Fiquei pensando sobre isso, em como a nossa geração diz crer em Deus, mas vivem como se o inferno não existisse. É estranho. Ao questionar a existência de Deus ou se o Evangelho era verdade, Bunyan não foi capaz de simplesmente seguir em frente e curtir a vida, não pensando no seu destino eterno. Não. Ao entrar nesse conflito ele ficou desesperado porque sabia que um dia iria morrer: E aí para quem será sua alma? (Lucas 12:20). Estamos vivendo como se nunca fossemos morrer e dizemos que cremos em Deus? Fica a reflexão.

Homem Bíblia

Além desses dois pontos: a exposição corajosa de suas fraquezas e a convicção de que era um pecador. Bunyan também nos constrange com seu apego às Escrituras. Bunyan leu a bíblia toda já no seu processo de conversão e ele era tão bíblico que seus conflitos, dúvidas etc; começavam e terminavam na Bíblia. Ele pensava biblicamente. Ele levava realmente as Escrituras à sério. Veja esse trecho:

“Percebi que o pecado pode lançar a alma para longe de Cristo, especialmente o pecado imperdoável; mas, ai daquele que for afastado assim, pois a Palavra o excluirá.” (p. 98)

O tentador

Por último comento também a clareza de Bunyan ao contar sobre suas tentações, em dizer que ele lutava contra si mesmo com certeza, mas que também estava lutando com o Diabo. Em várias passagens do livro ele deixa isso claro. Que sabia que estava sendo tentado pelo diabo. Que o diabo o estava atacando com palavras, pensamentos…

Os Evangelhos trazem a própria tentação de Jesus no deserto como um exemplo para nós de como o nosso inimigo trabalha. Mesmo assim, muitos de nós, preferem agir como se o diabo não existisse, isso é um erro. Como é um erro também dizer que tudo é o diabo. Sobre isso C.S.Lewis escreveu:

“Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir interesse excessivo e pouco saudável por eles.” [1]

Em suma, Graça Abundante é um livro valioso. Estou muito grata pela oportunidade de ter lido. Com certeza é um dos títulos que eu indicaria para todo cristão ler. A experiência que Bunyan narra nessas páginas ensina muito e pode poupar muitas almas de sofrerem no escuro da ignorância. A caminhada na fé é desafiante e muitas vezes passamos por temporadas difíceis de dúvidas, conflitos, verdadeiras guerras entre o eu e Deus. E, se não tomarmos cuidado, principalmente se pensarmos que é algo que está acontecendo só conosco, podemos sofrer muito mais muito mesmo. Bunyan nos mostra que não estamos sozinhos nessas temporadas, cristãos em todo mundo e de todas as épocas passaram por coisas semelhantes a essas (1 Pedro 5.9), e devemos lembrar sempre: “O melhor de tudo é que Deus está conosco” (John Wesley)

[1] LEWIS, C.S. Cartas de um diabo a seu aprendiz (The Screwtape Letters, 1942). Tradução: Juliana Lemos. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2005.

Livro: Graça Abundante ao principal dos pecadores (Grace abounding to the chief of sinners, 1666)
Autor: John Bunyan (1628-1688)
São Paulo: Editora Fiel, 2012
Páginas: 161
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