A Inconstância é o Normal: sobre os altos e baixos da vida

Hoje lá em cima, amanhã lá embaixo. Ontem, tudo fazia sentido, hoje nada faz sentido. De repente desapareceu aquela empolgação com o trabalho, com os amigos, com aquele projeto… Estranho porque você estava tão animado há pouco tempo… O que aconteceu? Para, reflete, mas não encontra o verdadeiro motivo. Então, começa sentir pesado desânimo, depois tristeza e depois culpa – “por que eu estraguei tudo?”.

A LEI DA ONDULAÇÃO

Uma regra de ouro que aprendi há alguns anos: Não importa o quanto feliz e satisfeito você se sinta, saiba que voltará a sentir-se infeliz. Não importa o quanto se sinta mal, até no fundo do poço, saiba que você vai subir daí e sentir-se feliz e animado novamente. C.S. Lewis chamou esse ciclo repetitivo de Lei da Ondulação. Ele disse:

“Os seres humanos são anfíbios – em parte animais, em parte espíritos. […] Como espíritos, eles pertencem à eternidade, mas, como animais, estão fadados à temporalidade. Isso significa que, enquanto o seu espírito pode ser direcionado para um objeto eterno, seus corpos, suas paixões e suas imaginações estão em constante mudança, pois mudar significa estar inserido na temporalidade. Eles experimentam a constância apenas em meio à ondulação – o retorno repetitivo a um nível do qual frequentemente se desviam, uma série de altos e baixos.” (LEWIS, 2017, p.33)

Enquanto vivermos sobre a terra, Lewis explica, os períodos de riqueza e vivacidade emocional e física se alternarão com períodos de entorpecimento e de pobreza. Em outras palavras os altos e baixos que experimentamos na vida e que muitas vezes atribuímos erroneamente à circunstâncias e há tantas outras coisas, nada mais é do que um fenômeno natural.

O SER HUMANO É INCONSTANTE

A inconstância faz parte da natureza humana. E quanto mais rápido você se der conta disso, dá nome a esse ciclo repetitivo, melhor. E quanto mais rápido também, você reconhecer que a inconstância toca simplesmente todas as áreas da vida, menos preso a essa ondulação você ficará.

Na vida profissional, familiar, espiritual… em todas as nossas experiências, em tudo que nos propormos a fazer, os altos e baixos farão parte do pacote, é um combo da vida.

O QUE FAZER NOS BAIXOS

Mas o que fazer mediante a minha própria instabilidade? O que fazer quando os baixos são tão baixos que parecem esmagadores?

É o que me perguntei há alguns anos quando finalmente aprendi a dar nome a esse efeito que percebia em mim mesma. E a primeira coisa que me veio a tona foi um novo entendimento das palavras do Ap. Paulo inspiradas pelo Espírito Santo: “sede firmes e constantes” (1 Cor 15:58). Pela primeira vez eu entendi que a Palavra de Deus só me ordena ser constante porque naturalmente eu sou inconstante.

O contexto dessa passagem é a vida espiritual, é a vida na fé em Cristo, porém o que ela significa eu posso aplicar nas minhas ondulações em geral. Deus está falando para seres inconstantes por natureza que devemos buscar a constância: Seja persistente e perseverante, apesar de tudo continue.

Essa vem sendo minha estratégia em meio aos baixos. Ao me dar conta do que está acontecendo: a queda de energia, o desânimo, a falta de interesse, quando começam os porquês de mais… Eu simplesmente persisto, fazendo de tudo para não desistir de nada de maneira precipitada. Buscando sempre, acima de tudo, continuar.

É claro que isso exige muita força de vontade, e que já falhei nisso várias vezes me entregando ao desânimo, desistindo de coisas importantes que não queria e não podia ter desistido. Mas foi assim, falhando, que eu aprendi uma segunda coisa muito importante para lidar com a minha inconstância: eu aprendi a recomeçar. E essa atitude de recomeçar, de tentar de novo, não poucas vezes foi o que me levou a subir novamente.

O QUE FAZER NOS ALTOS

A verdade é que não paramos muito para pensar quando as coisas estão bem. Quando se está indo bem no trabalho, nos relacionamentos, nos compromissos, alcançando os objetivos, a energia lá em cima… não há muito o que dizer, há muito o que viver.

Pensando exatamente nisso, aqui vai o que aprendi com um grande amigo: quando tudo estiver bem, quando for o momento de rir, aproveite! Eu aprendi nos meus altos, a não ser passiva ou ficar procurando problemas, mas a relaxar e viver aquilo. Afinal, estou consciente que por melhor que seja aquele momento, vai passar.

E nessa linha do vai passar, com o tempo também aprendi a não me iludir e não me apegar aos meus altos. Outra maneira de dizer isso é: aprendi a viver um dia de cada vez, sem demasiadas expectativas. Isso contribui, inclusive, para que os momentos baixos, não sejam tão baixos assim.

O interessante disso tudo, falo dos altos e baixos, é que vamos amadurecendo em meio a essas ondulações. Eu hoje realmente acredito que esse fenômeno natural da inconstância é uma das formas que Deus nos deu de fazer-nos olhar para dentro, olhar para fora, e então olharmos para cima (Salmos 121), para Ele que está muito além da nossa temporalidade inconstante, e que diferente de nós, nunca muda (Tiago 1:17).

Recapitulando:

  • A inconstância faz parte da natureza humana.
  • Nos baixos, persista, continue e recomece sempre que precisar.
  • Nos altos, aproveite!, não se iluda e nem se apegue demais, viva um dia de cada vez.
  • Olhe para cima, Deus é maior que você e nunca muda.

Espero que esse artigo tenha sido benção na sua vida! Se foi a primeira vez que você se deparou com esse assunto ou te fez lembrar dessa Lei da Ondulação, tenho certeza que foi.

Que Deus nos ajude nessa jornada que é viver. Não é fácil eu sei rs.

Cartas de um diabo a seu aprendiz (The Screwtape Letters, 1942). Tradução: Gabriele Greggersen. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.
Citações Bíblicas da Versão ACFLEWIS, C.S. (1898-1963).
Ilustrações Ottokim e Alev Neto


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