Sobre A Igreja Evangélica Brasileira do século XXI
Sobre A Igreja Evangélica Brasileira do século XXI

Sobre A Igreja Evangélica Brasileira do século XXI

Qualquer pessoa que está na fé cristã evangélica há mais de duas décadas no Brasil, sabe que a igreja brasileira não é a mesma.

Eu poderia retroagir mais, dizer há mais de três ou quatro e cinco décadas, mas quero dizer daquilo que eu experimentei.

Uma grande perda

A igreja evangélica brasileira perdeu muito daquilo que é mais precioso quando pensamos na igreja, a Noiva de Cristo. Perdemos nossas pérolas tão preciosas da vida de oração, da simplicidade cristã, da humildade e tantas virtudes, da sensibilidade espiritual para ouvir a Deus, do temor, dos valores e princípios… Perdemos, perdemos muito, ou nos perdemos muito.

Antes, não era difícil saber na prática o que era ter uma vida com Deus. Hoje, muitos crentes desconhecem o básico do que se espera de uma pessoa que se diz cristã.

A Crise

Um dos grandes problemas em minha opinião é que os crentes de hoje até fazem muito para a igreja: vão aos cultos, estão nas redes sociais, servem nos 1001 “ministérios” dentro das igrejas. Porém, fazem pouco ou quase nada para Deus de fato. Servem a igreja, mas não servem a Deus. Buscam seus próprios interesses, ou os do pastor, líder etc., mas não buscam a Deus.

Os crentes do século XXI são crentes nas igrejas e nas telas – nas fotos e vídeos -, mas estão longe disso fora desses ambientes.

E por quê? Em 1978, Richard Foster, escreveu as seguintes palavras, que são para mim uma síntese do que está por trás dessa crise: “A superficialidade é a maldição do nosso tempo. A doutrina da satisfação instantânea é o principal problema espiritual. A necessidade desesperada de hoje não é a de um número maior de pessoas inteligentes nem de pessoas talentosas, mas de pessoas com profundidade.” [1]

Confusão

E essa perda da vida cristã prática, essa superficialidade sufocante gera uma confusão. O que é uma vida cristã afinal?

Muitos falam e falam com eloquência sobre absolutamente tudo em relação a fé, das doutrinas, do cristianismo… Mas infelizmente tudo o que podem é falar, pois a fala deles nunca está acompanhada de ações concretas. John Bunyan, já alertava por intermédio de seu personagem Fiel: “A alma da religião é sua parte prática: A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo. Por estas práticas o Tagarela não se interessa, pensando que apenas ouvir e falar dessas coisas o tornará um bom cristão; por isso prossegue enganando a si mesmo.” [2]

O Apóstolo Paulo chamou esses homens faladores de “metal que soa ou sino que bate”. Eles produzem som sobre a vida cristã, mas são incapazes de demonstrá-la na prática. Tornando os seus seguidores também incapazes de experimentá-la.

O caminho de volta: as disciplinas espirituais

Larry Lea, diz em seu livro sobre oração: “A mediocridade tomou conta do Corpo de Cristo, e nós a estamos aceitando como coisa normal.” [3] Mas você meu leitor, que é um cristão, pode dizer basta, não aceitarei a mediocridade na minha vida. Você que está há mais de duas décadas na igreja brasileira, você sabe do que eu estou falando, e, por isso eu te digo: resgate as pérolas!

E para vocês jovens e adolescentes, ou recém convertidos, ou mesmo que se reconhecem somente como frequentadores das igrejas sem nunca terem firmado um compromisso com Cristo, eu digo têm muitas coisas que vocês não conhecem, há uma profundidade em Deus, há uma realidade concreta da vida cristã, têm mais… pense nisso!

Esse caminho de volta que precisamos fazer, esse resgate das tão preciosas pérolas que continuamos perdendo, é o que para mim representam as disciplinas espirituais.

Nas palavras de Richard Foster: “As disciplinas clássicas da vida espiritual convocam-nos a sair da superfície e morar nas profundezas. Ela nos convidam a explorar as cavernas situadas nos domínios do mundo espiritual. Elas instam conosco a sermos a resposta a um mundo vazio.” [4]

Na minha experiência pessoal essa têm sido a maneira como Deus tem me guiado. As disciplinas espirituais são os meios de Graça que as Escrituras me ensinam para conhecer e prosseguir em conhecer a Deus e me relacionar com Ele. E sobre isso, eu quero compartilhar mais. Nos próximos artigos escreverei sobre essas disciplinas da vida espiritual.

[1] [4] FOSTER, Richard J. Celebração da Disciplina: o caminho do crescimento espiritual, 1978. São Paulo: Vida, 2007.
[2] BUNYAN, John. O Peregrino,1678. Rio de Janeiro: BVFilmes, 2014.
[3] LEA, Larry. Nem uma hora?: Como reencontrar o gozo e a alegria de um contato vivo com Deus 1987. Minas Gerais: Editora Betânia, 1989.


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6 comentários

  1. Querida irmã amiga Kelly, este teu artigo é bastante oportuno e muito verdadeiro. Gostei da leitura e concordo em gênero, número e grau. Gostaria de fazer um artigo paralelo a este expondo a minha visão. Nunca sairemos deste limbo que toma conta do evangelho se não formos ousados e expormos a verdade dos fatos. Muito boa matéria querida. Glórias a Deus! 👏👏👏

  2. Estou numa fase mais próxima do agnosticismo do que de crente, tal não é só devido a situações pessoais e a minha luta permanente de ciência e fé, mas também por ver que se Cristo é espelhado pelos atos dos cristãos… então não é algo de tão bom como dizem. É duro o que disse, mas é o que mostram
    Outro aspeto tem a ver como as igrejas, católica, evangélicas e ortodoxas lutam politicamente mais para ser poder temporal e se imporem e preservarem ou alcançarem privilégios do que anunciar a boa nova desinteressadamente e no respeito daquele Cristo que aos que não O aceitavam deixava-os ir livres.
    Já li mais de metade do livro que me enviou, mas tarde falaremos dele

    1. Olá Carlos!
      Obrigada por compartilhar um pouco da sua experiência. Lendo o seu comentário eu me lembrei muito do C.S.Lewis, você conhece as obras dele? Não está fácil lidar com a apostasia da igreja atual, o recurso que temos para sobreviver na Fé é guardar as palavras de Cristo e perseverar na devoção: oração, humilhação, jejum… e sim, na comunhão com irmãos que estão a lutar dessa mesma maneira.

      Ok. Vou gostar muito de saber sua opinião.

      Que o Senhor Jesus te ilumine e guie pelas veredas da sua justiça. Abs!

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