Você não precisa de um chamado missionário de Yago Martins

“Aprendi, acima de tudo, que é obedecendo ao ‘ide’ que descobriremos para o que fomos chamados.” (p. 156)

Yago Martins é um pastor batista, autor de vários livros sobre cristianismo. Você não precisa de um chamado missionário, publicado a primeira vez em 2015, foi o seu livro de estreia, uma obra que continua relevante para o público cristão brasileiro mesmo passados esses oito anos.

Eu me lembro de acompanhar o Yago Martins pelo YouTube e Facebook já em 2014. De ter conhecido pregadores como o Paul Washer, John Piper, Augustus Nicodemus e outros, através do seu conteúdo. Sem dúvida posso dizer que nesse período o trabalho online do Yago foi importante na minha vida, sendo uma das influências que contribuiu para que eu me interessasse mais por teologia – e acredito que foi assim para muitos jovens na época.

Você não precisa de um chamado missionário, portanto, é um livro que estou ensaiando ler desde o lançamento – sim, procrastinei bastante. E quando comecei ler agora, pensava que talvez poderia ter perdido o time do seu conteúdo, porém longe disso. Esse livro tem como proposta corrigir alguns erros na visão e interpretação bíblica dos cristãos evangélicos quanto a ordem da Grande Comissão ou no termo como é mais conhecia Obra Missionária.

Yago abre seu livro falando o quanto as motivações por trás das nossas ações são importantes, e não só as ações, ainda que seu fruto seja bom. E afirma que a motivação correta para fazer missões é o Senhorio de Cristo e a Glória de Deus. Mas como podemos ter a motivação correta se não conhecemos verdadeiramente Cristo e sua mensagem conforme revelado nas Escrituras? Ele nos pergunta. Defendendo então que a única forma de trazermos em nossos corações a motivação correta para fazer missões é conhecer esse Cristo, através de uma boa teologia, ao que eu Kelly acrescento, uma boa teologia sim e uma vida de devoção sincera diante de Deus (Nada adianta ter teologia, o conhecimento, e não ter devoção e prática da Palavra).

O texto bíblico base destrinchado pelo autor é Mateus 28:18, e a ênfase do livro nesse texto é o Senhorio de Cristo e a ordem do Ide. Os demais pontos constantes na ordem da Grande Comissão parece que serão desenvolvidos nos demais livros da série. Sim, Yago se lançou como autor já com uma série: A Grande Comissão é bem maior do que você imagina.

Outro ponto relevante do livro é quando o autor se propõe a refletir para quem é essa ordem do Ide. Passando por pontos de vista diferentes ele conclui que Missões é uma ordem de Cristo dada a Igreja e não para indivíduos isolados. Ou seja, a Igreja (coletivo) foi chamada para fazer discípulos de Cristo de todas as nações. Isso implica que todo cristão precisa estar envolvido nessa obra de alcançar os perdidos, porém que nem todos estarão envolvidos da mesma forma. Nem todos largarão tudo e irão para outros países – o que geralmente é a maior dúvida das pessoas quanto ao Ide -, mas que todos devem se envolver nessa obra conforme a oportunidade que o próprio Deus vai concedendo, como também dos dons e talentos de cada um.

Passando assim para outro ponto alto do livro, que dá título a obra na verdade. No meio evangélico muito se fala ainda hoje, em chamado: “Qual o seu chamado?”, “Você tem um chamado?”. Yago, argumenta como isso de chamado é ensinado e utilizado muitas das vezes como uma desculpa para que os crentes permaneçam de braços cruzados. Já temos uma ordem de Cristo: Ide e fazei discípulos, o que precisamos ele diz em resumo é obedecer a ordem dada. Para ele chamado ou a área especifica que Deus quer te usar na missão é o lugar ou ministério onde você tem a OPORTUNIDADE (é Deus que abre os caminhos) e a maneira (na pregação, louvor, evangelismo, hospitalidade…) a que você dá mais frutos para Deus (a forma que segundo os seus talentos Deus é mais glorificado e que mais pessoas são alcançadas).

Ele finaliza o livro enfatizando após alguma argumentação bíblica e teológica que o IDE é para ir mesmo, nada dessas interpretações tão repetidas nas igrejas evangélicas de “enquanto vou” “indo”… dando a ideia de que a igreja não precisa de fato se deslocar, sair das quatro paredes e ir em buscar do perdido. A Igreja é chamada para IR. Nem todos os indivíduos crentes vão, mas há aqueles que vão, e os que ficarem precisam se envolver com esse envio, cuidando do enviado em todos os sentidos. E esse IR também, ele deixa claro no último capítulo é PARA FAZER ALGO. Só ir não adianta (só ir é turismo). Cumprir o IDE é ir para fazer discípulos. Devemos ir para levar a mensagem do evangelho, a mensagem da salvação, que Deus enviou-nos seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. O próximo livro da série Faça Discípulos ou Morra Tentando, pelo que entendi será sobre esse último ponto: o que devemos fazer em missões.

Como mencionei no início, esse é um livro que continua relevante para o cenário cristão evangélico brasileiro mesmo passados oito anos de sua publicação. Yago escreve de uma forma clara e atual, sem dúvida consegue se conectar com os leitores do século XXI e passa sua mensagem com sucesso. Tenho que dizer que como figura pública que hoje o Yago Martins é, eu não sou uma seguidora do seu trabalho, não curto muito a maneira como ele se comunica em vídeos, falando sempre dos assuntos que estão em alta, envolvido em polêmicas… Daí a importância da linguagem escrita, se não fosse esse livro eu dificilmente pararia hoje em dia para ouvir o Yago sobre esse assunto.

Em suma, eu gostei muito do livro, me esclareceu vários pontos que eu tinha turvos principalmente quanto a parte prática do IDE. O conteúdo desse livro não é só teórico, mas que realmente te coloca para frente de modo prático. Algo que eu tenho valorizado cada vez mais quanto ao que me proponho a ler e estudar. Recomendo.

+INFO Livro: Você não precisa de um chamado missionário | Primeira publicação: 2015 | Autor: Yago Martins (1992- ) | Editora Concílio, 2016 | Páginas: 208 | Amazon

★★★★★

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Kelly Oliveira Barbosa

Cristã, leitora e escritora – “Batei na pedra e tesouros jorrarão.” Livros publicados: Para que não seja esquecido (2020) e Maria José Gherard dos Santos: Minha Vida (2023).