“E a vida é isso, não é? Algumas realizações e algumas decepções. A mim parece interessante, embora não reclame ou me espante se outros não concordam muito com isso. Talvez, de certa forma, Adrian soubesse o que estava fazendo. Mas eu não perderia a minha vida por nada, entenda bem. Eu sobrevivi. ‘Ele sobreviveu para contar a história’ – é assim que as pessoas falam, não é? A história não se resume às mentiras dos vencedores, como um dia afirmei com tanta desenvoltura ao Velho Joe Hunt; eu sei disso agora. Ela é feita mais das lembranças dos sobreviventes, que, geralmente, não são nem vitoriosos nem derrotados”

Cento e Setenta e Cinco páginas de pura qualidade.
Confesso que o que me chamou a atenção nesse livro foi o título, não conhecia o autor e achei a capa bem aquém do padrão de beleza que a TAG costuma seguir, mas confiei, e não me arrependo.
Uma das coisas que me fez gostar desse livro, dentre tantas outras, é o fato de que ele tem alguns elementos que me fez lembrar de outros livros que gosto muito, por exemplo, no começo temos um grupo de grandes amigos muito inteligentes, o que me fez lembrar O Incolor Tsukuru.
Esse grupo de amigos tem suas conversas existenciais sobre o sentido da vida e filosofam sobre o significado das coisas, o que compõe a vida… esse tipo de coisa, essas conversas não são muito longas, então mesmo que você não curta essas coisas mais filosóficas isso não vai te incomodar, a vida vai seguindo e há o suicídio de um dos amigos, eles filosofam um pouco sobre a brevidade e falta de valor da vida, até descobrirem que o que motivou o garoto foi o fato de ele ter engravidado a namorada e ter medo da responsabilidade.
Algum tempo depois nosso protagonista, Tony, começa a namorar uma garota… estranha, para não usar palavras ofensivas, okay, estou sendo injusto, ela não é uma personagem tão odiosa, pelo menos não no início, esse relacionamento acaba não dando certo e Veronica (como se chama a fulaninha) começa um relacionamento com Adrian, o mais inteligente e visivelmente detentor do mais promissor futuro dentre os amigos.
A partir desse ponto as coisas começam a acontecer de forma mais acelerada, os anos passam, pessoas morrem, outras se afastam e perdem contato, novos personagens aparecem, ocorrem casamentos, novos personagens nascem e chegamos então na segunda parte do livro, com Tony já sendo um homem de meia-idade, feliz com a sua vida, mas com algumas pendências com o passado.
Vivendo sozinho ele tem algumas amizades íntimas e seu mundo é chacoalhado com uma ligação que vai ser responsável por fazer ele repensar a sua vida, entrando agora em um túnel de lembranças das agradáveis às dolorosas passando pelas que haviam se perdido.
É um livro fenomenal que, mesmo sendo curto, vai tratar profundamente de temas como o amadurecimento, arrependimento e solidão, vai falar sobre o poder da memória e de como ela, muitas vezes, é diferente do que realmente aconteceu, preenchendo as lacunas com invenções. Um livro que não desperdiça uma única linha, um livro que só pode ser descrito como fenomenal (ou algum sinônimo)

*Publicado originalmente em 22/09/2019, no Hiattos.
+INFO Livro: O Sentido de Um Fim | Autor: Julian Barnes | Editora: Rocco (Edição exclusiva TAG Experiências Literárias) | Páginas: 175 | Amazon, Estante Virtual
★★★★★❤
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Li-o em 2017, lembro-me que então gostei muito, não só do romance como história e mensagem como também do texto que achei de grande beleza.