“Conversar com Deus como se fosse meu pai! O pensamento sacudia minha alma com a maneira peculiar que a verdade possui de, ao mesmo tempo, espantar e confortar.”
Esse é um daqueles livros que abre seus olhos para muita coisa (nesse sentido, a capa foi muito bem escolhida).
O livro é narrado em primeira pessoa por Bilquis Sheikh, onde ela relata a sua conversão da religião muçulmana para o cristianismo. Essa é uma história real, Bilquis contou sua história para o Richard Schneider e ele a transcreveu fielmente (assim esperamos) para o livro, tipo aconteceu com Abdullah, que contou sua história a Clívio Meireles e esse a colocou em um livro.
Não quero comparar os dois livros, pois Abdullah e Bilquis foram pessoas bem diferentes. Bilquis tinha sua imensa casa com seu gigantesco e belo jardim e vivia confortavelmente com seus muitos criados que faziam o que era necessário para manter o seu estilo de vida. Ela foi uma mulher importante no Paquistão na época da Segunda Guerra e tinha certas mordomias devido aos serviços que prestou ao seu país.
Bilquis, como a esmagadora maioria do povo paquistanês era muçulmana e tinha sua crença baseada no que essa religião prega. Ela tinha uma criada cristã da qual gostava muito, mas que não admitia que falasse sobre a divindade de Jesus naquela casa. É um livro muito interessante para conhecermos mais sobre a cultura paquistanesa e muçulmana, afinal é também um povo que descende de Abraão (pra quem não sabe, os muçulmanos se originaram da linhagem de Ismael, o filho de Abraão com Hagar).
Certo dia Bilquis vê um casal de missionários apreciando seu jardim, ela fica um pouco desconfortável com a presença deles, mas não os expulsa e os trata com muita cordialidade, embora havia um certo preconceito por missionários, e cristãos em geral no Paquistão, como a própria Begun Sheikh (como é chamada) diz: são de uma posição social parecida com a dos varredores de rua, mas nessa noite ela tem dois sonhos que iniciarão uma mudança significativa em sua vida.
É uma história de transformação deliciosa de se acompanhar, mostra todos os problemas que levam Bilquis a, literalmente, lutar por sua vida, e é tudo descrito de forma tão bela e apaixonada que a leitura flui de forma imperceptível (tudo bem que o livro não é lá tão grande, mas enfim).
Já disse algumas vezes que tenho fascínio pelo oriente médio e enquanto lia esse livro eu viajei imaginando as cores, sabores e aromas daquele país árido, mas tão cheio de vida; inclusive peço a liberdade para transcrever um dos sonhos que Bilquis teve, fora de contexto ele talvez não signifique muito, mas considerando o momento da vida dela, e o acontecimento que se deu logo após ela acordar é de arrepiar. Vou colocar destacado abaixo, porém transcrevo de cabeça, já que emprestei o livro para o meu pastor.
“Estava em casa a espera do entardecer quando uma de minhas criadas me avisa que chegou à minha porta o comerciante de perfumes, eu felicíssima fui ao encontro dele para adquirir o que sempre foi meu luxo predileto. Depois de conversarmos ele disse que tinha algo especial para mim, e me estende um jarro que exala um maravilhoso perfume. Ao olhar lá dentro fico hipnotizada pelo perfume que tem a aparência de cristal líquido, encantada tanto com o cheio quanto com a aparência começo a enfiar a mão para tocar o líquido quando ouço o comerciante dizer: ‘Não!’ Ele retira o vaso das minhas mãos e o coloca em minha mesa de cabeceira enquanto completa: ‘Isso vai se espalhar pelo mundo todo!'”
A edição não condiz muito com o conteúdo do livro, ou seja, não é tão boa… a capa é sim muito bonita, mas o acabamento do livro deixa bastante a desejar. Claro que a Vida é uma editora bem menor que uma Thomas Nelson da vida, ou mesmo uma Mundo Cristão, e eles fazem um trabalho mais barato devido a isso, com folhas brancas e capa sem orelha com um papel inferior ao usado pelas grandes editoras. Apesar disso o trabalho de revisão foi bem feito, sem nenhum erro grotesco, pelo menos (não me lembro de nenhum agora) e o livro transmite muito bem a história que conta, nos enchendo de conhecimento sobre uma cultura diferente e mostrando o quão agraciados, preguiçosos e ingratos somos pela liberdade que nos foi concedida.
*Publicado originalmente em 03/11/2019, no Hiattos.
Livro: Atrevi-me a Chamar-lhe Pai
Autor: Richard Schneider
Editora: Vida
Páginas: 188
★★★★★❤
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Quero muito ler esse, tem tudo para eu gostar.
Além do que você comentou sobre a editora, acrescento que infelizmente eles não tem muito o costume da reimpressão. Há vários livros (como por exemplo a Biografia de John Wesley do Mateo Lelievre) que são raros, desejados pelos leitores, só publicados no Brasil por eles até então, mas uma vez fora de catálogo, já era. Isso para mim é um ponto super negativo, pois nem o ebook é disponibilizado.
Oi Kelly!
Não sabia que a editora tinha esse problema, vou ficar de olho