Gilberto está tocando piano no que parece um concerto. Entre a plateia estão seus pais, que por não estarem familiarizados com aquele tipo de música acabam se distraindo e deixando-se levar pelas memórias que aquela cena do filho adulto evocam. Margarida, a mãe, rememora como lhe foi difícil criar Bentinho quase sozinha; dos trabalhos pesados, dos episódios com o seu marido bêbado… Depois, o foco recai sobre os pensamentos de Inocêncio, o marido e pai, que lida naquele momento com o seu remorso de não ter contribuído em nada para que o filho chegasse ao patamar (ascensão financeira, intelectual…) que está.
A nossa atenção é disputada entre o filho do presente, a mãe no passado, o pai angustiado. Toda uma dramatização para um arremate imprevisível que dá significado ao título.
A sensação que eu tive ao ler esse conto foi que o escritor ao invés de papel e caneta (ou máquina de escrever, como preferirem imaginar rs), portava uma câmera nas mãos, ora filmando o palco, ora a plateia. Entremeando as cenas do presente com flashbacks. Quanto a essa habilidade narrativa, que não deve ser fácil de executar, tenho que admitir é um conto interessante. Porém, o drama familiar universal: do pai bêbado e a mãe batalhadora, do filho criado com dificuldade que se dá muito bem na vida… não me convenceu. E aqui eu arrisco a dizer que o problema está nas poucas páginas do conto, pois creio que se o mesmo drama tivesse sido explorado em um romance (uma narrativa longa), me agradaria mais – considerando o espaço para a construção dos personagens, enredo, cenas etc.
Importante dizer que As mãos de meu filho está na antologia da Editora Objetiva (2001), intitulada “Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”, portanto é considerado pelos críticos um ótimo conto.
Concluindo, apesar de reconhecer a habilidade narrativa do autor, eu não gostei. Resta-me tentar um romance do Veríssimo – nunca li nada além do autor – para ver se simpatizo mais.
Conto: As mãos de meu filho
Autor: Érico Verissimo (1905-1975)
Edição lida: Os cem melhores contos brasileiros do século
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001
★★★★★
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Dele só li o 1.° romance da Trilogia de O Tempo e Vento, e adorei.
Oi Carlos. Devo ler uma obra dele em algum momento. Acho que não arrisco essa trilogia não.