“Quando vi Tito na incubadora, no dia de seu nascimento, compreendi que o amaria e o acudiria para sempre.” (p.149)

Diogo Mainardi, é um dos jornalistas que criaram em 2015 o amado e odiado site jornalístico autointitulado de direita: Antagonista. Reacionário assumido. Um mordaz crítico das esquerdas e do populismo político no Brasil e mais especificamente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já à época do escândalo do mensalão, quando utilizou seu espaço na coluna da revista Veja para incomodar o Partido dos Trabalhadores e os demais “companheiros”.
A Queda publicado em 2012 pela editora Record, porém, nada têm a ver com o jornalismo ou com a política nacional. A Queda é a expressão dos sentimentos desse Mainardi polêmico, daquilo que foi um divisor de águas na sua vida.
Seu primeiro filho, Tito, nasceu com paralisia cerebral causada por um erro médico no difícil parto de sua esposa Anna, num hospital de Veneza.
Com uma estrutura bem interessante dividida em pequenas notas, segundo Mainardi: os passos de seu filho que tem uma grande dificuldade de caminhar; ele mergulha em sua aflição a partir do dia do parto nos contando essa história ao mesmo tempo que colocando para fora, como uma represa de água que der repente se rompe, aquilo que estava guardado dentro de si. Tudo escrito num estilo bem próprio e a partir de inúmeras referências históricas – como a eugenia nazista, a arquitetura de Veneza e grandes descobertas da medicina -; artísticas – como a obra do pintor holandês Rembrandt van Rijn -; e literárias – como Proust, Shakespeare, Stevenson, Mark Twain e outros.
Eu diria que a paternidade é o grande tema do livro. Mainardi afirma várias vezes como sua vida mudou por completo depois do nascimento de Tito: “A paternidade tornou-se minha ideologia”. De fato a condição de pai para o autor beira à idolatria e isso em suas próprias palavras: “Tito se tornou meu Deus”, “Tito era o Todo”. Todavia a partir do excesso fica a questão para o leitor refletir: o que seria de fato a paternidade e mais, como essa tem sido entendida pelos homens, pelos pais. Se Mainardi exagera, há com certeza quem considere a paternidade de forma frívola.
O título da obra não poderia ser outro e mais perfeito. A queda de forma direta na obra se refere ao já mencionado: a dificuldade que Tito tem para andar vindo sempre a cair. Mas indiretamente se refere a todas as quedas humanas. Mainardi mesmo ateu consegue ver, talvez num borrão, a queda infinita do homem. Caímos em Adão e continuamos caindo desde então – “destituídos estamos…”[1]. Caímos na vida, falhamos, nos levantamos para cair novamente, é assim. Na vida “saber cair tem muito mais valor do que saber caminhar”. E da queda final, da morte, só há um que pode nos levantar e Ele é o próprio Caminho!
…o grande segredo da invalidez é que todos aqueles que convivem com ela sabem que uma pessoa inválida é apenas uma pessoa que amam. (p.63)
Espantosamente, a paralisia cerebral de Tito, para mim e para Anna, em momento algum representara um motivo de dor. Espantosamente, a paralisia cerebral de Tito, para mim e para Anna, em momento algum representara um peso. (p.63)
[1] Citação de Romanos 3:23
Livro: A Queda: as memórias de um pai em 424 passos Autor: Diogo Mainardi Editora: Record, 2012 Páginas: 152 Amazon, Estante Virtual ★★★★★
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Olá, Kelly:
Essa foi a minha leitura de “A queda: memórias de um pai em 424 passos”.
https://betoqueiroz.com/2016/12/07/queres-ler-o-que-vi/
Olá Adalberto! Vou dar uma espiada 😉
Não conheço o jornalista nem as suas polémicas, contudo os autores de obras deste género muitas vezes evidenciam uma força e perspetiva positiva que impressiona e os excertos colocados no post retratam isso.
É verdade Carlos! Me surpreendi muito.