Negrinha de Monteiro Lobato
Negrinha de Monteiro Lobato

Negrinha de Monteiro Lobato

“Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma.”

“Fascinação”, Pedro Peres, 1909

Eu cheguei a publicar um post sobre esse conto na primeira leitura que fiz, quando o blog estava hospedado no blogger (republicado aqui), mas novas reflexões surgiram.

Não importa o tamanho do texto, um conto, uma poesia que seja, quando o mesmo é bom, em cada releitura aquilo se expande muitas vezes em uma nova percepção. O texto se transforma, ou transforma-nos. 

Negrinha é um conto que te puxa para dentro dele e então te joga no chão. Profundo. Duro. Triste. Impossível de se manter distante, frio enquanto se lê.

A narrativa é impecável. Tudo está no seu lugar para funcionar e causar o efeito que causa no leitor, não dá para tirar nem acrescentar.

A menina preta sem nome. A senhora branca de sobrenome. A alma do ser humano é revelada, a miséria de todos nós. Podemos ser a menina, podemos ser a senhora. Mas podemos também é verdade: ser o padre, as sobrinhas, os outros personagens passivos a tudo aquilo, aqueles que não fazem nada a não ser achar cômico ou enaltecer os egos. Não importa. Até nossa desigualdade é uma questão de misérias.

O padre, é preciso deter-se aqui. Lobato mostra como os seres mais terríveis podem revestir-se, esconder suas maldades, sob a capa da religiosidade. Um flagrante.


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11 comentários

  1. Não conheço a autora e logicamente o conto, mas pareceu-me uma forte crítica os defeitos da sociedade estabelecida.
    Relativamente ao comentário que fez num artigo mais antigo de Geocrusoe, é verdade que mesmo em livros o blogue já tem um arquivo grande de resenhas e com vários anos.
    Já li vários Afonso Cruz, um escritor original que gosta de misturar situações históricas e reinterpretá-los com imaginação e criatividade. O romance dele que mais gostei foi “A boneca de Kokoschka” e enquadra-se neste género. Com um estilo bem mais juvenil “Os livros que devoraram meu pai” tem o interesse de falar de aspetos contidos em vários grandes clássicos da literatura de forma a cativar o leitor para essas leituras.
    Alguns livros dele valeram mais pela forma do que pelo conteúdo da mensagem que era pouco, mas escreve muito bem.

  2. Li esse conto no livro de aniversário de 3 anos da TAG, e ele me destruiu.
    è muito como você diz, podemos, muitas vezes, não ser a megera que é a vilã mais visível da história, mas nossa omissão nos torna cúmplices das injustiças

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