O Senhor das Moscas de William Golding
O Senhor das Moscas de William Golding

O Senhor das Moscas de William Golding

Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega ou louca.

Tenho que admitir que o título desse livro nunca me chamou atenção. Se não fosse as inúmeras resenhas tecendo curiosos elogios e me informando que Lost – minha série favorita -, foi inspirada no romance, provavelmente nunca o teria lido. E seria uma pena. Porque esse não é um livro qualquer, mas um daqueles livros que de fato nos proporciona uma experiência literária. E, para mim, que tenho interesse pelo problema do mal na literatura, tornou-se uma leitura indispensável.

Publicado a primeira vez em 1954, foi o livro de estreia do escritor inglês William Golding (1911-1993), que serviu na marinha britânica na Segunda Guerra Mundial. Escrevendo sobre essa experiência ele disse o seguinte: “Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega ou louca”. Golding ganhou o Nobel de Literatura em 1983.

Só crianças…

O enredo se desenvolve a partir de um acidente aéreo numa ilha desconhecida, onde apenas crianças sobrevivem. O que aconteceria se um grupo de meninos entre 6 e 15 anos ficasse isolado por alguns dias, sem supervisão de adultos? É o que descobrimos nesse romance angustiante e desconfortável.

Os personagens são muito bem construídos e a trama é instigante do começo ao fim. Ralph, Jack, Porquinho e Roger, são os que creio, ficaram eternizados para mim. Com um destaque para Roger, que embora tenha um papel mais coadjuvante, faz o leitor atento aos mínimos detalhes de seu desenvolvimento, inquietar-se consigo mesmo.

Sem dúvida, esse é um livro capaz de gerar muitas reflexões não só sobre a natureza humana, mas sobre as estruturas da sociedade, religião etc. Convidativo à imersão, ao meu ver, não há como sair da leitura intocado em seu íntimo.

Um livro quase perfeito

Não fosse o estilo de narrativa que particularmente não gosto, diria que é um livro perfeito – e compreendo quem afirme que sim. Me ocorreu o mesmo com “O Coração das Trevas” do Conrad: aquele foco em criar a “atmosfera”, dizer muito sem dizer nada, com esmeradas descrições de paisagens… anoitecer e entardecer… são lindas, porém não consegui apreciá-las, achei cansativas e prolixas. Curiosamente, entendo que esse recurso tem o propósito de transmitir ao leitor o estado psicológico dos personagens — justamente o meu maior interesse ao ler ficção.

Me alongando um pouco mais na questão: um exemplo de autor que faz isso muito bem – envolve o leitor no psicológico do personagem -, isso é, que me agrada bastante, é Jonathan Franzen, que é um autor americano contemporâneo. Talvez haja aí algo relacionado à forma atual de escrever, já que Golding e Conrad são autores clássicos. Ainda assim, me recordo, que Robert Steverson em o clássico “O Médico e o Monstro”, também é primoroso nesse recurso, e esse livro, por sua vez, é um dos meus favoritos da vida. Então, a preferência, acredito, recai mais sobre o estilo do autor do que sobre a época.

Em suma, O Senhor das Moscas, amando ou não sua narrativa, é um livro para ser lido e relido muitas vezes. Sem dúvida uma das melhores obras produzidas na literatura mundial como várias listas destacam.

Livro: O Senhor das Moscas (Lord of the Files, 1954) 
Autor: William Golding (1911-1993)
Edição lida: Nova Fronteira, 2011
Páginas: 258
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★★★★★

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3 comentários

  1. Pingback: Melhores leituras de 2018, por Kelly Oliveira – CAFÉ E BONS LIVROS

  2. Andries Viljoen

    O mal é inerente à mente humana, seja qual for a inocência que o oculte …
    Leiam o livro! É um livro fácil de ler e bem legal, vale muito mais a pena.O Ralph não era esse santinho todo e o Jack também não era esse capeta todo no início.
    Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder por escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para todos.
    Jack podem representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona controlar a todos na ilha.
    Porquinho pode representar a ciência, uma vez que ele age de modo lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
    O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é melhor para eles estarem inseridos no grupo do que contra ele.
    Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e que tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu comportamento imita o dos cães.
    O “Bicho” representa a propaganda, causando medo por um inimigo nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack.
    Simon representaria a fé e a religião, por ter visões e revelações místicas. Também poderia ser caracterizado como tendo esquizofrenia.
    Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com clareza.
    A concha representa ordem e democracia na ilha.
    Outras interpretações consideram não tanto uma alegoria política, mas uma alegoria social. Esta linha de pensamento indicaria que:
    Ralph representa o governo, a ordem e a responsabilidade
    Porquinho representa a inteligência e a razão, não importando o quão impopular a verdade possa ser
    Jack representa a barbárie, o lado negro da humanidade.
    A concha representa a civilização, e quando Jack a abandona, ele rompe as amarras que o prendem ao mundo moderno.
    O fogo representa a utilidade, um meio para um fim, o qual, quando usado de modo incorreto
    Bom demais!! Retrata muito bem o comportamento do ser humano diante de uma situação extrema. Muitos de nossas atitudes podem ser compreendidas com base neste história. A tirania, guerras e violência também vivida em nossa sociedade nada mais são que o fruto da busca pela sobrevivência e busca de poder.
    Parabéns pela postagem, ótimo trabalho, recomento a todos assistirem com olhar crítico.
    Assista(m) a Versão de Alkitrang dugo (1975) e O Senhor das Moscas (1963) pois são melhores que essa refilmagem de 1990.

  3. Pingback: O Senhor das Moscas – Análise e Reflexões Sobre o Clássico de William Golding

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