Acabo de finalizar essa leitura maravilhosa que fiz em companhia da Dafne do Blog Sonhos e Suspiros. Como é bom mergulhar em uma leitura sem grandes expectativas.
Clara dos Anjos foi publicado originalmente em 1948, infelizmente como uma obra póstuma do escritor brasileiro e carioca Lima Barreto (1881-1922). Se trata de uma novela curta, sobre a vida de uma moça, a Clara dos Anjos, mulata, pobre e sem instrução; filha do carteiro Joaquim dos Anjos e da dona Engrácia dos Anjos, uma família típica do subúrbio do Rio de Janeiro da metade do século XX.
O enredo gira em torno da ilusão romântica da jovem pelo repugnante e narcisista Cassi, que apesar de sua pouca instrução formal é branco e filho de uma família de classe média.
É um livro sobre vários temas sérios eu diria, que pede uma segunda ou terceira leitura para uma melhor compreensão. Entretanto, nesse primeiro contato alguns pontos me chamaram muito a atenção:
1. O sentimento de frustração desenvolvido em quase todos os personagens. Lima Barreto contando sobre as aspirações da juventude de seus personagens e as barreiras (sejam internas ou externas) que eles encontraram no decorrer da vida, a ponto de desistirem ou fracassarem na busca de seus objetivos, passa para o leitor, essa sensação pesada e real da frustração e da impotência do ser humano.
2. A personalidade narcisista do Cassi. Há um tempo atrás assisti alguns vídeos e li textos de psicólogos a respeito da personalidade narcisista e seus vários níveis ou nuances. Fiquei surpresa em encontrar nessa obra esse personagem que se encaixa tão perfeitamente nessa descrição e achei interessante o aprofundamento que o autor trouxe na questão da consciência humana ou da falta dela, na prática do mal.
3. Pelo pouco que li sobre a vida do Lima Barreto, senti um toque autobiográfico em vários momentos. Uma caractéristica que especialmente me agrada na literatura.
4. A caracterização da mulher “fraca” e da mulher “forte”.
5. O valor que o autor, no decorrer na narrativa, dá a instrução, não só formal, mas do preparo dos jovens, no caso mais enfatizado da mulher, para a vida – a vida que é uma selva.
Enfim, gostei muito da obra. A melancolia perpassa todo o livro e o final não é fácil de encarar, mas excelente também.
*Imagem cabeçalho Eduardo Schloesser
+INFO Livro: Clara dos Anjos, 1948 | Autor: Lima Barreto (1881-1922) | Edição lida: Escala, 2011 | Páginas: 144 | ★★★★★
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